Por força de algumas colocações de Adolfo Maia sobre problemas locais de desaceleração no comércio e na economia municipal em comentários no Blog, tomei a decisão de externar algumas reflexões que vinha fazendo anteriormente e que até já havia externado a algumas pessoas. Umas dessas oportunidades foi em viagem de Aracati a Icapuí enquanto conversava com outros passageiros do mesmo táxi que utilizei.
A conversa saiu logo após nossa parada em função das muitas pessoas que esperavam transporte para retornar para Icapuí com suas volumosas compras feitas no shopping canoa. Comentei com cautela vários aspectos que na minha opinião precisavam ser cuidadosamente analisados pelas autoridades locais. O que estava em jogo na conversa era o fato do grande volume de pessoas que se deslocavam de Icapuí a Aracati especialmente, mas também Mossoró para fazer suas compras, na maioria das vezes a feira do mês.
A reflexão que propus e proponho é que tal fato tem a força de provocar deslocamentos quase imperceptíveis na vida do município e na economia do lugar. Poucos percebem a dimensão disso e o impacto sorrateiro que o processo causa lentamente no desenvolvimento local. Parece "a olhos nus" uma coisa simples, corriqueira. Na verdade, o problema é bem maior. Ele cria processos de perda de identidade local. Significa dizer que vai tornando as pessoas mais articuladas economicamente e afeiçoadamente a outros municípios que o seu. Significa que em passos pequenos as pessoas vão se identificando mais com Aracati e Mossoró como CIDADE e dando ao lugar que residem, ICAPUÍ, um município emancipado, a feição de um DISTRITO dependente de outros centros urbanos. As pessoas passam a não reconhecer o local como espaço economicamente independente e em tudo procuram outras praças. Isso prococa, inclusive, certa perda de "amor" ao município. Já vi pessoas dizerem em função disso: "isso é lugar de gente!".
Nesta situação, há uma razão justa a que se deve respeito. Os trabalhadores precisam otimizar seus salários e assim buscam locais onde os preços e a variedade são bem melhores, são compensatórios. E, diga-se de passagem, muito compensatórios. O comércio local, por razões que não cabe aqui aprofundar, pratica preços muitas vezes abusivos em vários ítens da cesta básica e em muitos outros elementos que não apenas alimentação. Isso sem falar nas facilidades e prazos que outras praças praticam e que aqui não se vê muito.
Toda essa questão esbarra em uma única que abarca os problemas todos. É a ausência de uma política econômica municipal clara e organizada. Neste sentido é que penso que as autoridades locais e a sociedade civil organizada deve intervir. É necessário, em primeiro plano, criar uma política de incentivo aos comerciantes locais, possibilitando que, mediante as situações que lhe permite praticar preços altos, possam encontrar apoio para terem preços mais acessíveis e produtos mais variados.
Outro movimento aliado a esse deve ser uma política de sensibilização à população que se desloca para fora, como bem propôs Adolfo e eu reforço. Uma campanha e o incentivo dos órgãos públicos locais deve esclarecer as pessoas acerca dos riscos que o município corre com isso e sensibilizá-las para que invistam na economia municipal, fazendo suas compras aqui mesmo, deixando o dinheiro aqui na cidade.
Os graves problemas que poucos andam percebendo explicam "o paradeiro" dentro da economia de Icapuí. Mesmo com o problema da pesca da lagosta, penso que a desaceleração não se deve a isso somente, porque mesmo que estivesse boa, com essa lógica, o dinheiro da lagosta também iria sair. Deve-se sim à ausência de circulação interna dos poucos recursos que aqui são gerados, especialmente via funcionalismos público e aposentados. Há atualmente, pelo deslocamento das pessoas, um grande prejuízo nesse campo, comprometendo o desenvolvimento local. O definhamento do desenvolvimento municipal nesse ritmo passa pelo prejuízo das receitas da Prefeitura (FPM, ICMs, entre outras) em função da enorme saída de recursos para outros municípios que ganham em muito com isso e nós perdemos na queda dos recursos para as políticas públicas, em especial educação e saúde.
Nesses termos, anuncia-se o risco da distritalização econômica de um município emancipado, com amplas condições de se desenvolver e crescer economicamente muito mais, por suas enormes riquezas, e oferecer aos seus munícipes - em especial aos assalariados - boas condições de compra, preços acessíveis, variedade e qualidade. De quebra, o dinheiro fica por aqui mesmo, circula internamente, gera riquezas, emprega pessoas, distribui renda, anima a cidade, desenvolve o município, mantêm as pessoas identificada com seu município. O cuidado com todos esses aspectos não se devem somente pela questão econômica, mas pela força simbólica que isso tem sobre a consciència das pessoas e na imagem do município.
Seria ótimo se esse ensaio aqui apresentado fosse motivo de discussão, debates e iniciativas locais para reverter esse processo emquanto é tempo. Ainda que minha especialidade não seja a economia, mas educação, ficaria feliz se contribuísse para o bem-estar de Icapuí, a que tenho imensa filiação e que prezo carinhosamente. Daí tantas preocupações