sábado, 5 de dezembro de 2009

A experiência da Fossa-canteiro em Barrinha

A Fundação Brasil Cidadão ganhou o prêmio da Fundação Banco de Brasil sobre Tecnologia Social na categoria Nordeste e no site a jornalista Larissa Leite fez uma matéria sobre a experiência do projeto, que reproduzimos abaixo:

Fossa-canteiro que recupera sistema de saneamento é finalista de prêmio

por LARISSA LEITE


Ao mesmo tempo em que abriga uma expressiva biodiversidade, o município de Icapuí, no litoral do Ceará, ainda convive com as conseqüências de intensas agressões ambientais. Em muitos casos, as agressões estão vinculadas à ocupação urbana não planejada, o que resultou na falta de saneamento básico. A ausência desse serviço provocou a contaminação do lençol freático, fato prejudicial tanto à fauna local, que conta com espécies como o peixe-boi, quanto à saúde dos moradores da região. Um projeto iniciado no município, porém, vem oferecendo uma solução de saneamento considerada bastante eficaz. Trata-se da fossa bio-séptica, uma tecnologia barata que promove o tratamento individual do esgoto, sem adição de produtos químicos. Além de difundir uma cultura de preservação dos recursos hídricos, o projeto já promoveu a readequação de 85% do sistema de saneamento em três núcleos comunitários de Icapuí: Ponta Grossa, Barrinha e Requenguela. A solução concorre atualmente ao Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2009. A cerimônia do prêmio acontece no dia 24 de novembro, quando oito vencedores receberão R$ 50 mil cada.

Atualmente, Icapuí - com população próxima a 20 mil habitantes - conta com 220 fossas em propriedades familiares. Essa tecnologia vem sendo a principal alternativa ao uso de sumidouros, sistema tradicional no qual o esgoto das casas é lançado diretamente no lençol freático. "Não existe uma solução de saneamento apropriada sendo aplicada nas casas. Não há a presença de um serviço público e, na maioria dos casos, existe apenas um sumidouro. No entanto, a água que muitas famílias bebem vem desse mesmo subsolo contaminado por coliformes fecais", afirma André Soares, responsável pelo projeto. Soares integra a equipe do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (Ipec), sediado em Pirenópolis (Goiás), que implantou a tecnologia no Ceará em parceria com a Fundação Brasil Cidadão (FBC), por meio do Projeto De Olho na Água.

Outro nome dado à fossa implementada em Icapuí é Canteiro Bio-séptico. Isso porque a técnica utilizada nessa fossa inclui de fato a presença de um jardim, onde podem ser plantados, inclusive, gêneros alimentícios, configurando-se em uma horta. No Canteiro Bio-séptico, são aproveitadas técnicas naturais de absorção de água e nutrientes pelas plantas. "A fossa é um canteiro produtivo e o objetivo dela é unir, em um pequeno espaço, características naturais de purificação de água. Ou seja, o que a natureza ensina para a gente em termos de limpeza de água? Ela ensina que o solo fértil, uma terra vegetal, é o melhor filtro que existe na natureza", explica Soares. Vale destacar que, em sua essência, os dejetos humanos constituem um poderoso fertilizante de solos.

Na prática, a fossa é um ecossistema dentro de um canteiro fechado, que não permite que o esgoto sanitário entre em contato com o restante do solo. Ao contrário de outras fossas sépticas que apenas decompõem os sólidos, não livrando a água da contaminação por bactérias, staphillococcos, etc., no Canteiro Bio-séptico toda a matéria orgânica é digerida por plantas filtradoras. Elas atuam em conjunto com microrganismos anaeróbios que, ao absorverem a matéria orgânica proveniente das fezes, filtram a água que depois é infiltrada no solo já limpa. Assim, o canteiro funciona como uma horta que recebe água e adubo orgânico de baixo para cima. Em Icapuí, já existem pedreiros orientados na construção desse mecanismo, considerado de baixa complexidade.

Soares defende que o sistema soluciona um "problema" antes transferido à comunidade - o saneamento básico -, eliminando os efluentes na ausência de poluição e mau-cheiro, além de explorar a oportunidade de produzir plantas em um ambiente de alta fertilidade. Um dos objetivos do projeto é iniciar a produção de alimentos em pelo menos 70% dos núcleos familiares atendidos. Em relação ao meio ambiente, a próxima meta do Canteiro Bio-séptico é reduzir, nas comunidades atendidas, a contaminação das águas subterrâneas por coliformes fecais em mais de 60%.


Fonte: Fundação Banco do Brasil

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