As Cidades Digitais ou "cibercidades" já são uma realidade em áreas urbanas e rurais brasileiras, melhorando a qualidade de vida da população através da inclusão digital e da melhoria dos serviços públicos com o uso da tecnologia da informação.
Um pouco antes de Pedro Álvares Cabral, de acordo com alguns historiadores, o navegador espanhol Vicente Pinzón desembarcou no Brasil na praia de Ponta Grossa, na então região de Icapuí, no Ceará. Como não se tratava de uma viagem oficial, a visita não foi aceita como um descobrimento. A 200 km de Fortaleza,com quase 20mil habitantes, o município de Icapuí, com apenas 26 anos, é cenário agora de um novo tipo de navegação.
Desde 2009, o município vem desenvolvendo um dos mais avançados programas de cidade digital do país. Batizado de Icapuí Digital, o programa conta com o apoio dos governos estadual e federal, por meio de convênio com o Ministério da Ciência e Tecnologia. O governo do Estado vem disponibilizando a infraestrutura do Cinturão Digital, rede debanda larga que está sendo implantada para beneficiar 85% da população urbana do Estado. A prefeitura de Icapuí está investindo R$ 650 milna instalação de uma rede wireless na frequência de 5,2 GHz e em projetos para modernizar as áreas: administrativa, de saúde, educação, segurança, comunicação e ciência e tecnologia.
O exemplo de Icapuí se insere em uma nova fase de experiências das cidades com tecnologias digitais. O professor da Universidade Federal da Bahia e coordenador do Grupo de Pesquisa em Cibercidade (GPC/Facom UFBA), André Lemos, explica que existem quatro conceitos de Cidades Digitais (ver quadro).
O que se aplica à administração pública é o do uso da Tecnologia da Informação e Comunicação(TIC) para a criação de infraestrutura, serviços e acesso público à internet, visando a melhoria da qualidade de vida e bem estar do cidadão.
O objetivo maior dessa nova infraestrutura é promover o vínculo social, a inclusão digital, democratizar o acesso à informação, produzir dados para a gestão do espaço, aquecer as atividades políticas, culturais e econômicas e reforçar a dimensão pública. A atual revolução na infraestrutura urbana é uma das mais fundamentais mudanças no desenvolvimento das redes urbanas desde o começo do século passado, explica Lemos.
Casos de Sucesso
Experiências de Cidades Digitais ocorrem em várias partes do país. Em Campinas, de acordo com dados da prefeitura, 78% da população, de 2 milhões de habitantes, é incluída digitalmente. A prefeitura é também a principal acionista da empresa IMA(Informática de Municípios Associados) e, para o seu diretor técnico, Marcelo Pimenta, a infraestrutura de TIC da cidade deve conversar através dos seus sistemas. O sistema de transporte tem que estar integrado como sistema de saúde, que temde estar integrado comodeeducação, e assim por diante.
No Rio de Janeiro, a pioneira Piraí, oferece banda larga gratuita aos moradores desde 2003, quando iniciou o Projeto Piraí Digital. É também a primeira cidade brasileira a equipar sua rede pública de ensino com computadores portáteis, com acesso à internet, aos seus 6.200 alunos. Piraí interligou os órgãos da administração pública e está informatizando todos os serviços na área de saúde, tais como agendamento de consultas e exames. Nos casos de doenças mais graves, os médicos podem consultar por teleconferência professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Entre as capitais, Porto Alegre foi a primeira a estabelecer uma rede pública municipal de conexão de banda larga sem fio com a construção, em 1999, de uma infovia própria. Ela é formada por uma extensa rede de cabos de fibra óptica, interligando as principais secretarias com escolas, telecentros e postos de saúde. Este avanço foi um dos diferenciais que ajudaram a Fifa escolher a capital gaúcha como uma das cidades a sediar a Copa 2014.
Estima-se que o crescimento e a expansão das cidades digitais no Brasil ocorra com o Plano Nacional de Banda Larga. O Plano prevê, até 2014, investimentos públicos e privados em torno de R$ 75 bilhões nas redes de telefonia, além da extensão de banda larga de pelo menos 1 Mbps, a preços acessíveis, a todos os municípios brasileiros. O ob jetivo é articular ações de inclusão digital, levando acesso à internet para toda a população em cinco anos.
Os Conceitos de Cidades Digitais O professor e coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciber cidade da UFBA, André Lemos, indica quatro conceitos de Cidades Digitais com diferentes ideias e aplicações.
1- Para portais web
O conceito nesse caso é aplicado a projetos governamentais, privados e da sociedade civil que visam criar uma representação na web. São portais com informações gerais e serviços, comunidades virtuais e representação política. Um dos projetos pioneiros foi "De Digitale Stad", da cidade de Amsterdã, em 1994.
2- Para utilização de computadores e internet em pontos da cidade
Refere-se a criação de infraestrutura, serviços e acesso público às novas tecnologias e redes. É o conceito utilizado nas cidades brasileiras através de telecentros, quiosques multimídia e áreas de acesso à internet e a serviços de governo eletrônico.
3- Para planejamento de espaço e urbanismo
O conceito é referente ao uso de modelagens 3D a partir de Sistemas de Informação Espacial para simulação de espaços urbanos. As simulações ajudam no planejamento e gestão do espaço, servindo como instrumento estratégico do urbanismo contemporâneo.
4- Para ambientes virtuais que simulam aspectos da vida social
É a cidade digital ?metafórica?, formada por projetos que não representam um espaço urbano real. Estes projetos são chamados de nongrounded cybercities e um exemplo é o Second Life. São sítios que criam comunidades virtuais utilizando a metáfora da cidade para a organização do acesso às informações.
Fonte: Revista Tema - Serpro (Visto no blog www.peixegordo.com)