sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Poesia

SONHO DE UM RINCÃO DITOSO

Do alto dos morros verdejantes
Que não verdejam como antes
Via dois mares
Um azul imenso
Outro verde intenso

Coqueiros inocentes
Escondem-se da gente
Que ao chegar ao paraíso
Avista concreto de duas cores
Não é o azul do mar
Nem o verde da flora
É a cinza cor de cinza dos muros
Que tapa a vista
Com letreiros sem agudos

O avante virou regresso
O passado virou presente
O tempo parou num instante
Em cima de uma linha sem trilhos
E aqui, o freio do abandono
Em um mundo que segue adiante
Travou o destino dos filhos

Fui criança que corria solta
Brincando de bola e levando carão
Descalço ao meio dia
Banhava-me nas ondas calmas
De um mar alegre como eu
Águas salgadas que jorravam riquezas
Do lagamar ao horizonte
Passava bem a nossa frente
Cardumes de pessoas felizes
Nas águas de um tempo que se perdeu

O progresso secou o mar
O regresso secou o homem
Que pra matar sua fome
Poe pedras no seu caminhar
Impede o próprio homem de ser
O que apenas sabe ser
Um pescador de enganos
Que perde noites de sonos
Contando as ondas de um infinito oceano
Onde não pode entrar

Lembro de um céu iluminado
Que brilhava incessantemente
Cada um era destino
E cada destino sabia para onde ir
Nesse novo céu não vemos luzes
Não temos um rumo
Não temos um prumo
O norte é um inverso
E o futuro é o breu do escuro

Farpas jogadas nas faces
Feridas expostas no caos
A força e a prepotência dos fortes
Dos ricos, dos que mandam
Nos fracos coitados pedintes
Que sobrevivem das migalhas
De um mundo criado por nós

Nós, calados
Ouvintes das dores
Dos clamores dos que precisam de pão
Dos destinos que quisemos um dia
Das maravilhas que conquistamos
Dos gritos que nunca foram em vão
Acordem filhos da terra, brandem suas angústias
Resgatem a verdade que construímos
Os caminhos que desenhamos
Nos rastros que um dia seguimos
Nas asas deste rincão

Nas noites sem brilho de lua
Sem brilho do povo na rua
Escuto os dizeres dos mais sabidos
Que tempos bons eram aqueles
Onde tínhamos de tudo,
Até sorrisos dos indiferentes
A esperança surgia nas esquinas
Nos semblantes eufóricos
Nos ideais imaginários
Cantado em prosas e versos
A luta de um povo nascido decente

Nas incontáveis voltas
Que o ciclo celestial vivencia
Desejamos que algo de bom
Sobrepuje essa nossa letargia
Que “eu criança” sorria
Que nossas luzes brilhem
Mesmo durante o dia

As noites serão completas
As vozes serão libertas
Os sonhos serão verdades
Os passos seguirão em frente
O futuro não será algo distante
O mundo será nosso quintal
O bem que tanto quero
O progresso que tanto espero
Um dia se tornará real

3 comentários:

Rabelo, C.D. disse...

Coisa mais linda a tempos não vejo!! Parabéns com P maiúsculo! Intenso, belo, verdadeiro demais!

Anônimo disse...

Vejam que coisa. Uma poesia tão bela diz mais verdades que postagens comuns, e os "cegos" da cidade nem reagem... Falta de cultura é claro!!!! Vivem na mesmice do "baba ovo" e só enxergam o óbvio. Duras críticas expostas na poesia não levantam incomodações aos imbecis.Que bom....Assim, se pode dizer o que está amordaçado sem incomodar os "cabos eleitorais" anÕnimos que tanto se incomodam..

Anônimo disse...

Sinceramente é uma bela poesia. Ao ler lembrei-me dos tempos em que o PT, por exemplo, tinha ideais! Que pena que o verbo ficou pra outrora...um passado pouco distante, mas que se transformou em uma ilha
deserta, inabitada. Presente apenas nos mais distantes sentidos, na poesia que ainda vive e lamenta um passado que não mais existe em função da corrupção do homem.......trago essa poesia para o presente do PT, um presente recente, mas que tanto marca e que renega seus partidários a um outrora distante, uma utopia melancólica que pensa em um futuro de glória. Salvação por super-homens!

Que o futuro traga pessoas compromissadas com um mundo sem corrupções e que, dessa forma, respeite os sonhos alheios, respeite o nosso futuro! Nos deixe sonhar!