sábado, 8 de janeiro de 2011

Diário do Nordeste: Marés de Janeiro causam preocupação aos moradores de Icapuí

LITORAL CEARENSE
Mar aumenta, Avanço na costa durante janeiro


Decreto de Emergência é pleiteado pela Prefeitura de Icapuí diante dos impactos da maré alta no litoral

Capa do jornal Diário do Nordeste
com titulo Beleza Ameaçada:
O avanço do Mar está causando
estragos na costa de Icapuí.
A bela praia de Redonda,
em destaque, pode estar em
risco.
edição. 08.01.11
Icapuí. Quando o mar derrubou, no início desta semana, o muro do Centro de Educação Infantil, na comunidade de Barrinha, em Icapuí, foi só mais uma prova do medo da população de ter as casas engolidas, literalmente. O receio é justificável. E janeiro é o pior mês para muitas comunidades onde o avanço do mar já alcança um nível crítico, enquanto os governos buscam medidas de contenção com o "barra-mar". A situação pode piorar entre os dias 20 e 21 deste mês. A população em Icapuí aguarda que projeto saia do papel, e em Caucaia, na Praia do Icaraí, se espera o fim da obra que deve amenizar o problema, que movimenta a Geologia e a Biologia marinha.

Nos últimos dez anos as praias de Icapuí encolheram. São paraísos naturais que levam sustento às comunidades, ao atrair turistas pela riqueza da fauna e flora. Tudo some com as águas. Na localidade de Barrinha, onde já se esperava o avanço do mar sobre a creche - inclusive com alerta da reportagem em 2010, ao menos 25 famílias já abandonaram suas casas, hoje dentro do mar. A comunidade fez barreiras de proteção, com pedras de calcário, para amortecer as ondas. É um paliativo, mas até hoje é a única solução concreta na localidade.

Na Praia de Peroba foi construído um calçamento, mas não durou muito e o lugar já apresenta erosão. As famílias atingidas da Praia de Quitérias mudaram-se para casas de parentes ou compraram imóveis no Centro da cidade. Em períodos de maré alta, os moradores da Praia de Requenguela têm dificuldade de atravessar para comunidades vizinhas. Em Barreiras de Baixo, o mar também já expulsou moradores e amedronta os que ficaram. E um fato inusitado ocorreu em Barreiras de Cima: depois de uma época de avanço sobre a praia, o mar recuou, e hoje, até dunas e vegetação ressurgiram.

Obra de contenção
Na praia da Barrinha, em Icapuí, famílias
perdem área na praia,
tomada pelas marcas da destruição
causada pela força das águas marinhas.
O clima é de apreensão
FOTO: MELQUÍADES JÚNIOR
Há dois anos a Prefeitura Municipal de Icapuí tem um projeto para execução de uma obra de contenção do mar em Barrinha, onde a situação é das mais críticas. A obra estava avaliada em R$ 5 milhões. De acordo com o deputado federal José Airton, já existem R$ 2,3 milhões previstos em orçamento.

Em novembro de 2010, técnicos da Coordenação Estadual de Defesa Civil estiveram em Icapuí avaliando os estragos causados pelo avanço do mar, bem como os pontos com maior número de moradores afetados. Perceberam o impacto do avanço das ondas, como em Barrinha de Mutamba, onde o espaço antes ocupado por um campo de futebol é, agora, de pedras colocadas pelos moradores para impedir maior impacto. O capitão Pedro Catanho, da Defesa Civil, esteve no local e viu as comunidades de moradores que, diante da maré, estão sob risco. A Defesa Civil prepara relatório e a Prefeitura de Icapuí espera ter autorizado o Decreto de Emergência.

A obra de contenção do avanço do mar mais aceita é uma escadaria de concreto. Impede a água de passar e "engorda" o espaço de praia. Esta técnica é construída em Caucaia, e em Icapuí pode tranquilizar as comunidades, principalmente na Praia Barrinha.

O avanço do mar no Ceará é objeto de estudo da Geologia e da Biologia marinha. As primeiros pesquisas sobre o tema estão concentrados no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC). No caso de Cascavel, mais precisamente na Praia da Caponga, estudos do pesquisador Eduardo Gentil apontam avanço de sete a oito metros por ano. O Ceará tem, pelo menos, sete áreas que mais sofrem com os impactos das marés. A média de avanço das águas marinhas no Estado é de 0,60 centímetros a cada ano, muito aquém do que acontece em Icapuí, com áreas sofrendo avanço próximo de dez metros ao ano.

O mar engolindo as praias no Ceará começou a ser um tema de estudo ainda na primeira metade do século passado, depois da criação do Porto do Mucuripe, em 1940. Antes do porto, até 800 mil metros cúbicos de sedimentos eram trazidos para o litoral de Fortaleza a cada ano. Hoje não são.

Remoção
Como consequência, a areia começou a ser removida pelas correntes marinhas, da faixa mais próxima do porto, o que levou à construção de espigões ao longo da orla de Fortaleza. Isto, no entanto, foi levando a erosão para as praias vizinhas, até chegar ao Icaraí e Icapuí, os pontos mais críticos.

O muro do Centro de Educação Infantil da Comunidade de Barrinha derrubou no último dia 4. Até o dia 21 as ondas podem alcançar 3,7 metros. As crianças continuam brincando e dormindo, mas sempre com o som das ondas ao "pé" do ouvido. O medo é permanente.

Melquíades Júnior
 Colaborador

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