quarta-feira, 21 de abril de 2010

Revista AU - Arquitetura e Urbanismo faz matéria sobre a Fossa Biosanitária e Cisterna do Projeto De Olho na Água

A jornalista Bianca Antunes da Revista Au- Arquiterura e Urbanismo fez matéria com título: Soluções simples para a água potável no projeto De olho na água . Fundação Brasil Cidadão e Ipec . Icapuí, CE.

Abaixo reproduzimos o texto da revista:

Sustentabilidade

Soluções simples para a água potável no projeto De olho na água . Fundação Brasil Cidadão e Ipec . Icapuí, CE
Por Bianca Antunes Fotos Felipe Horst


O Oceano Atlântico banha a pequena cidade pesqueira de Icapuí, litoral do Ceará na fronteira com o Rio Grande do Norte. Belas praias e vida pacata em uma cidade com pouco mais de 17 mil habitantes. E um problema comum no interior do Brasil: falta de água potável.

Estima-se que, no mundo, 1,1 bilhão de pessoas não tenha acesso à água potável - o que causa 1,6 milhão de mortes ao ano, a maioria entre crianças com menos de cinco anos, segundo a ONU. Em Icapuí, parte do problema foi sanado com o projeto De olho na água, organizado pela Fundação Brasil Cidadão com apoio da Petrobras e do Ipec (Instituto de Permacultura do Cerrado) para o manejo e gestão de recursos hídricos.

O Ipec implementou uma parte do projeto para atender mais de 200 famílias em duas pontas: de um lado garantir a segurança do suprimento de água potável com captação e armazenamento de água da chuva. De outro, construir sistemas de tratamento biológico dos efluentes domésticos, para que a água utilizada não polua o lençol freático que, em Icapuí, fica próximo à superfície. Para isso, foram construídos cisterna de ferrocimento, sistema de captação de água da chuva e canteiro biosséptico com tratamento biológico da água.

As tecnologias mostram que certos problemas podem ter soluções acessíveis. E que sustentabilidade é também pensar simples. "Trouxemos a solução para o quintal da casa das pessoas. São tecnologias fáceis de entender, de dominar e de replicar", explica André Soares, do Ipec.

Antes de definidas as tecnologias, foram feitas análises química e bacteriológica da água, mapeamento dos ecossistemas, análise de uso e ocupação do solo, definição das áreas mais susceptíveis à contaminação da água e das áreas potenciais de riscos ambientais. Todos os dados técnicos foram construídos com a participação da comunidade e disponibilizados para os habitantes e para a gestão municipal.

Para a fabricação dos reservatórios de água em Icapuí, utilizou-se o ferrocimento, técnica que possibilita a construção rápida de reservatórios grandes, além de permitir reparos e inspeções de vazamento.

O tamanho do reservatório deve ser determinado pela necessidade de consumo e a duração máxima do período de estiagem. Calcula-se que pelo menos 6 litros diários por pessoa sejam necessários para cozinhar e beber. Uma casa com cinco pessoas, por exemplo, vai utilizar 10.950 l por ano. O cálculo básico para construção de cada cisterna em Icapuí considerou uma área de captação de 60 m2, pluviosidade de 800 mm/ano e volume coletável de 48.000 l.

As cisternas foram construídas próximas às casas e conectadas diretamente às calhas, para aproveitar a água que cai em toda extensão do telhado. Foram utilizadas calhas comuns conectadas a canos de 100 mm que levam a água do telhado até o tanque. Uma tela serve de filtro, evitando a entrada de folhas e animais.

Como a intenção é beber a água da chuva, é importante descartar os primeiros 20 minutos de água que cai sobre o telhado. Para isso, foi instalado um sistema de descarte feito com uma câmara e uma bola flutuante. Quando a câmara de escape enche, a bola sobe e veda o desvio da água, que nesse momento começa a encher o tanque.

O canteiro biosséptico associa a digestão anaeróbica (sem presença de oxigênio) a um canteiro séptico que digere toda a matéria orgânica na zona de raízes das plantas em conjunto com micro-organismos aeróbicos (com a presença de oxigênio). A água é evapotranspirada, eliminando totalmente qualquer tipo de resíduo.

Canteiro biosséptico ou fossa de bananeira

A vala de 1 m de profundidade por 1,5 m de largura e 2 m de comprimento é escavada e impermeabilizada com alvenaria sobre um contrapiso de aproximadamente 5 cm - medidas calculadas para uma casa familiar média, com seis pessoas.

O biosséptico tem uma entrada para o esgoto e um suspiro que serve como saída de ar e inspeção do nível de água. Dentro da vala, é construída uma pirâmide com tijolos furados, criando um espaço para depositar o efluente. Os furos dos tijolos devem estar desobstruídos, apontando para as laterais. Assim o efluente pode alcançar as raízes das plantas. Na parte externa da pirâmide, coloca-se material poroso para encorajar o desenvolvimento de micro-organismos responsáveis pela digestão do efluente - em Icapuí optou-se pela casca do coco.

O efluente entra na pirâmide de tijolos e imediatamente inicia-se um processo de digestão anaeróbica. Ao alcançar os furos dos tijolos, ele entra em contato com o material poroso e as raízes das plantas, sendo digerido aerobicamente.

Acima do material poroso, uma camada de 20 cm de composto ou terra vegetal acomoda as plantas responsáveis pela evaporação da água, e que podem ser bananeiras, taiobas e bambus. O canteiro biosséptico funciona como uma horta, porém recebe água de baixo para cima. O resultado é um sistema sem efluentes, pois toda a água é absorvida e evaporada pelas plantas enquanto a matéria sólida (0,1% do volume total) é transformada em minerais inertes, que são alimentos para as plantas. "É um ciclo completo", explica André.

FICHA TÉCNICA

PATROCÍNIO E PROMOÇÃO Programa Petrobras Ambiental

REALIZAÇÃO Fundação Brasil Cidadão, UFC (Universidade Federal do Ceará), Ipec (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado)

APOIO Ibama, Promosell Comunicação, Projec, Aquasis, Prefeitura Municipal de Icapuí, Associações Comunitárias locais



Fonte: Revista Au- Arquiterura e Urbanismo

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