domingo, 29 de agosto de 2010

Icapuí está entre os municípios cearenses com maior risco de fogo


Em matéria veiculada hoje no Diario do Nordeste, Icapuí aparece entre as seis cidades cearenses com maior número de focos de queimadas detectadas pelo INPE. Só aqui foram registrados 32 focos. Uma das causas desses incêndios nas matas, se devem principalmente à prática de agricultores fazerem queimadas para limpar seus "roçados", pondo em risco fogo toda a vegetação próxima. O clima quente e a vegetação seca propiciam o alastramento rápido do fogo, como em notícia postada aqui recentemente sobre um desses incêndios em Icapuí.
Veja matéria completa do repórter Marcelo Raulino do Diário do Nordeste, clicando em LEIA MAIS.

Diário do Nordeste (29/08/2010)
Ceará entre os estados com maior risco de fogo
Além dos fatores naturais, há também queimadas provocadas de forma criminosa para renovar a pastagem



O Ceará está entre os estados do País com maior risco de incêndios florestais, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE). O órgão avalia como crítica a situação cearense. Apesar disso, só foram registrados 1.136 focos de incêndio desde janeiro até a presente data, número bem abaixo dos ocorridos no Mato Grosso, que teve 11.529 focos, Pará com 6.509 e Tocantins com 6.474 focos.

Nos últimos três anos o número de incêndios vinha diminuindo no Brasil. Em 2007 foram 202.299; em 2008, 134.864 e no ano passado 69.717. Em 2010, até aqui, foram contabilizados 41.636, mais que o dobro dos registrados no mesmo período de 2009. Somente neste mês de agosto já ocorreram 22.730 pontos de queimadas registrados no Brasil.

Isso ocorre porque o País está no período de maior risco de incêndios - os meses de agosto e setembro, que concentra cerca de 60% do total de incêndios ocorridos durante o ano.

No Ceará, segundo a tenente Sâmila Ribeiro, assessora de comunicação do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, o Sertão Central e Centro Sul são as regiões que apresentam maiores riscos de fogo. Só neste mês de agosto foram 104 pequenas queimadas e incêndios florestais de grandes proporções no Estado (até o dia 22). "Ai contabilizamos incêndios em lixões e terrenos baldios. Nas florestas, o capim seco e o vento forte acabam piorando a situação", destaca.

Os municípios de Itapipoca, com 39 focos, Quixeramobim e Canindé, com 37 cada, Icapuí, com 32, Boa Viagem, com 30 e Trairi, com 22 focos, lideram os casos de queimadas detectadas pelo INPE no Ceará, neste ano. Sâmila observa que o combate nas regiões inóspitas são feitas ´em marcha´ mesmo e com auxilio de equipamentos.


Bomba


O clima seco na maior parte do Brasil nesta época do ano transforma florestas em verdadeiras ´bombas-relógio´. Na Região Centro-Oeste a umidade relativa do ar está em torno de 15% (quantidade de água existente no ar) comparável a regiões desérticas. No Ceará esse índice varia de 30 a 40% (o recomendável pela Organização Mundial de Saúde são 60%). As regiões Centro-Oeste e Norte do País, no momento, são as que se encontram em situações piores. Capitais como Rio Branco (AC), Porto Velho (RO) e Manaus (AM) estão sendo invadidas pela fumaça dos incêndios na floresta.

Além dos fatores naturais há também queimadas provocadas de forma criminosa para renovar a pastagem para o gado, fazer o manejo do recurso natural, queima de lixões ou os provocados por balões. Essas ações vem sendo investigadas pelo Instituto Chico Mendes.

O Ibama vem cumprindo seu papel. Nesta semana aplicou mais de R$ 4 milhões em multas por queimadas ilegais na Região Norte, mas mesmo assim não tem conseguido deter os atos criminosos.

A partir de outubro até janeiro, com o início das chuvas no Centro e Sul do Brasil, as queimadas migram para o Nordeste, que está com o ar mais seco e recebe maior incidência de sol. De janeiro a abril, as queimadas passam a atingir Roraima e o norte do Amazonas.

Atualmente, a situação é mais preocupante nos estados de Tocantins, leste de Mato Grosso, oeste da Bahia, algumas áreas do Piauí e de Minas Gerais, Rondônia e no sul do Pará.

Cerca de 10 mil pessoas estão envolvidas no trabalho de combate ao fogo, principalmente nas áreas de proteção ambiental. Sendo 3 mil dos institutos Chico Mendes e Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e 7 mil bombeiros de todo o País.

Além de perdas materiais há um claro prejuízo a saúde de milhares de brasileiros. Os incêndios produzem partículas muito pequenas, oriundas de material orgânico e de vegetação. Elas ficam suspensas no ar e, quando inaladas, causam irritação no aparelho respiratório e problemas de saúde.


Focos 2010


MATO GROSSO - 11.529
PARÁ - 6.509
TOCANTINS - 6.474
GOIÁS - 2.612
BAHIA - 2.555
MINAS GERAIS - 2.292
MARANHÃO - 1.809
SÃO PAULO - 1.459
PIAUÍ - 1.422
MATO G. DO SUL - 1.246
RONDÔNIA - 1.181
PARANÁ - 650
RORAIMA - 423
CEARÁ - 248
AMAZONAS - 242
RIO DE JANEIRO - 161
PERNAMBUCO - 130
ALAGOAS - 129
DISTRITO FEDERAL - 126
ESPÍRITO SANTO - 104


Fonte: INPE



CAPACITAÇÕES
Previna faz ações de combate em todo o Estado


O combate ao fogo no Ceará conta com a parceria do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), através do Programa Estadual de Prevenção, Monitoramento, Controle de Queimadas e Combate aos Incêndios Florestais (Previna) que realiza capacitações.

Até hoje, cinco brigadas cearenses foram formadas, com média de 30 soldados cada (guardas municipais e bombeiros). As cidades contempladas com o curso foram Juazeiro do Norte, Sobral, Tauá, Crateús e Acopiara. O Previna foi criado em 2004 pelo Governo do Estado visando uma gestão sustentável do meio ambiente estadual principalmente no que diz respeito à sua área agricultável com relação a utilização de queimadas antes do cultivo de terras.

A coordenadora estadual do Previna, Ana Cecy Pontes diz que esse trabalho vem sendo realizado através de uma parceria com vários órgãos que formam o Conpam.

"Nossa meta é atuar na prevenção do fogo, por isso estaremos em setembro capacitando técnicos da Ematerce e da Seagri. A Ematerce poderá ser uma grande aliada no trabalho de conscientização para evitar que se utilize as queimadas", diz.


´BROCA´
Queimadas causam a desertificação


O tradicionalismo, a ignorância e muitas vezes a comodidade de agricultores cearenses que utilizam as queimadas como mecanismo de preparação da terra para um novo plantio é uma das causas da desertificação crescente no Ceará. A constatação é da gerente do Núcleo de Cadastro e Extensão Florestal, da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Gisa de Paula.

De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), cerca de 15.130 km2 equivalentes a 10,2% da superfície total do Ceará estão associados a processos de degradação susceptíveis à desertificação.

Gisa de Paula, que é responsável pela autorização do uso do fogo controlado na agricultura, diz que há locais onde não são permitidas queimadas: terrenos pedregosos ou próximos a área de proteção permanente. "Indicamos saídas para que os agricultores não necessitem utilizar o fogo, pois apesar de ser um método tradicional não é o melhor. Na primeira vez que é utilizado até melhora o solo, mas depois o torna pobre. O uso do manejo florestal é a saída, pois possibilita que a vegetação se regenere", observa.

"Outros sistemas são a agropecuária e da agrofloresta, que exigem o manejo e garantem a produtividade", destaca Gisa, "as pessoas mais antigas entendem que se não fizeram a ´broca´ (queimada) acham que vão perder o ano", revela.


INTERIOR
Cultura prejudica fiscalização oficial


Segundo Gisa de Paula, os técnicos vem tendo muita dificuldades em convencer os agricultores para que mudem suas práticas, "É difícil quebrar esse paradigma e por isso a Semace está querendo fazer um trabalho preventivo, quanto a educação e ao meio ambiente, para eliminar a falta de consciência ambiental. Aqui no Ceará a cultura é queimar, desmatar. As pessoas não entendem porque tem que repor a vegetação. Isso demonstra falta de conscientização e de orientação mesmo", desabafa.

A gerente diz que, por outro lado, a acomodação e a burocracia também afastam os agricultores da obrigatoriedade de solicitar licença para a utilização de queimadas. "Ter que vir a Fortaleza, pagar uma taxa e ainda esperar que a Semace vá ao local verificar se a queimada pode ser feita. Para muitos não vale a pena. Como não há fiscalização intensa, muitos nem se preocupam com isso", frisa.

Segundo ela, esse problema está sendo resolvido com a contratação de mais fiscais que serão capacitados e brevemente estarão atuando para evitar o uso indiscriminado de queimadas no estado.

Gisa assevera que a maior parte dos incêndios ocorridos, principalmente nas áreas de Caatinga no Ceará, não são oriundos de combustão natural, como acontece no Cerrado, mas são provocados. "Fico triste com isso, como o próprio cearense coloca fogo na vegetação de sua terra?" indaga.


MARCELO RAULINO
REPÓRTER

Nenhum comentário: