quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Jornal de Fato: Ufersa pesquisa na área de conflito

O blog reproduz matéria no Jornal de Fato de Mossoró, em sua edição de hoje, sobre a pesquisa que vai ser realizada pelo Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural do Semi-Àrido, sobre a pesca da lagosta em Icapuí. A matéria faz uma abordagem do conflito existente no município de Icapuí. 


12/08/2010
GUERRA DA LAGOSTA/ICAPUÍ
Ufersa pesquisa na área de conflito

A pesca da lagosta na área de conflito no município de Icapuí (CE) será alvo de pesquisa da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Um projeto de pesquisa está sendo elaborado pelo Departamento de Ciências Animais, por meio do curso de Engenharia de Pesca. Segundo o coordenador da pesquisa, professor Marcelo Augusto Bezerra, um convênio será firmado entre a Ufersa e o Ministério da Pesca e Aquicultura para viabilizar o trabalho. A pesquisa contará com a participação dos estudantes de Engenharia de Pesca.

Na última terça-feira, 10, o professor Marcelo Augusto e o diretor de Planejamento e Ordenamento da Aquicultura em Estabelecimentos Rurais e Áreas Urbanas, Luiz Osvaldo de Souza, se reuniram com os pescadores de Icapuí. "Estamos aqui para ouvir os pescadores e discutir propostas voltadas para o ordenamento da pesca da lagosta", disse o representante do Ministério da Pesca. A pesquisa proposta pela Ufersa é para avaliar os pontos negativos da pesca de mergulho, bem como avaliar uma área experimental para esse tipo de atividade.

O estudo será realizado no município de Icapuí, no Ceará, onde nos últimos meses a pesca da lagosta vem ocasionando conflitos entre os pescadores. A pesca com compressor, atividade proibida pelo Ibama, mas praticada em todo o litoral da região Nordeste, é um dos pontos a ser avaliado na pesquisa. No estudo, os pesquisadores da universidade vão verificar a fisiologia do mergulho em função da profundidade e do tempo embaixo da água. 

O estudo propõe ainda a elaboração de um inventário de pesca e o cadastramento dos pescadores de Icapuí. Outro ponto será a coleta de dados sobre as embarcações que são utilizadas e os métodos de pesca praticados naquela área do litoral. Os pesquisadores querem acompanhar ainda todo o processo de desembarque do crustáceo, processamento e comercialização.

Enquanto todo o processo de pesquisa não é concluído, o coordenador da pesquisa e também os alunos esperam que os pescadores evitem conflitos. O professor sugeriu aos pescadores de Icapuí, principalmente das praias de Barrinha e Redonda, um pacto de não agressão e a suspensão das ações de fiscalização civil com tripulação armada e encapuzada.
 
Conflito já teve mortos, feridos, destruição de barcos e veículos
 
No litoral de Icapuí, os pescadores estão em pé de guerra há muito tempo. Os pescadores da praia de Redonda pescam conforme determina a legislação ambiental e acusam os vizinhos de fazer uso de marambaia e pesca predatória com mergulhos usando compressor. Como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA) não tem estrutura para fiscalizar a pesca predatória, os pescadores de Redonda resolveram fazer o trabalho do Estado.

A guerra, que já tem mais de 10 anos, já resultou na apreensão e destruição (queimado no morro) de cerca de vinte barcos. Nos conflitos armados em alto mar, já aconteceu de pescadores morrerem e muitos ficarem feridos a bala, como aconteceu recentemente onde pai e filho foram baleados durante uma intensa troca de tiros quando estava retornando de uma pescaria. Como consequência deste tiroteio, os pescadores interditaram o acesso a cidade e queimaram um ônibus.

A polícia foi chamada e a delegada da cidade propôs um diálogo entre as partes. Os pescadores das duas praias concordaram desde que seja em local neutro e com a presença do representante do Ministério Público Estadual e de homens da Polícia Militar. Os pescadores de Redonda aceitam um acordo com os demais, se estes concordarem em parar de praticar a pesca predatória e a também combater a pesca predatória da lagosta no litoral de Icapuí. A reunião ainda não foi marcada.

Pescadores gostaram da proposta da Ufersa
 
"Acho a pesquisa fundamental para que possamos encaminhar ao governo a real necessidade da pesca da lagosta", afirmou o vice-presidente da Colônia de Pescadores de Icapuí, Manoel Jeová. Há mais de 25 anos como lagosteiro, Paulo Jorge Damasceno, também é favorável ao trabalho proposto pela Universidade do Semi-Árido. "Sou favorável a pesca com compressor e concordo com a pesquisa, pois vai tirar todas as dúvidas com relação a esse tipo de pesca", opinou.

"A pesca da lagosta vem se tornando ponto crítico no litoral de Icapuí, inclusive, sendo registrado confronto armado entre os pescadores. A nossa proposta é contribuir no ordenamento dessa atividade que tem ocasionado prejuízos não apenas para os pescadores, mas para a região", afirmou o professor da Ufersa Marcelo Augusto, acrescentando a importância do trabalho como extensão universitária. "Hoje, estamos oficializando para os pescadores a disposição da Universidade Federal do Semi-Árido em desenvolver esse trabalho aqui em Icapuí", complementou.

A atuação da Ufersa em Icapuí é justificável por estar localizada a apenas uma hora do município cearense e ser uma área de atuação para os estudantes do curso de Engenharia de Pesca. O professor Marcelo Augusto agendou um novo encontro com os pescadores na próxima quarta-feira, 18, para apresentar o projeto de pesquisa.

Fonte: Jornal de Fato

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