sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ação - Alimento nutritivo feito com algas marinhas gera renda no Ceará

O programa Ação com Serginho Groisman com as ações da Fundação Brasil Cidadão em Icapuí será exibido neste sábado (23/04) às 7h30 pela TV Globo.

Comida é distribuída nas escolas de Icapuí. Mulheres do projeto “De Corpo e Alga” fazem o manejo e preparam as sobremesas.

 

Um nutritivo complemento alimentar foi adicionado à merenda das escolas públicas em Icapuí. É uma mousse feita de algas marinhas. A responsabilidade em agradar os alunos é do grupo de mulheres do projeto “De Corpo e Alga”, que, além de gerar renda, ainda contribui para o equilíbrio do ecossistema.

Em uma escola de Icapuí, o dia que tem mousse de alga é sempre divertido. “Ave Maria, eles adoram. Eles gostam muito. No dia que é mousse, a fila redobra”, conta a merendeira da escola, Vania. “É uma das merendas que eu nem gosto de distribuir, porque a gente gostaria de dar até mais, e a ordem que a gente tem é de distribuir só uma”, fala a outra merendeira, Maria Mendonça.

“A gente sabe que está comendo uma coisa que é importante pra gente. Tem proteínas que são importantes”, explica um dos alunos da escola, João Oliveira, de 16 anos. Jean de Souza, de 14 anos, conta como tudo começou. “Fizemos uma pesquisa pra mostrar o valor nutricional das algas. A gente foi até o projeto na praia da barrinha e, a partir de lá, a gente trouxe algumas algas para fazer pesquisa no laboratório”, explica.

“A principio, as crianças, os adolescentes, não tinham noção do sabor, tinham uma certa rejeição ao que vem do mar. Achavam que era sujo, que tinha um cheiro diferente, mas quando eles provaram, perceberam que é o mesmo gosto do iogurte que eles compram no comércio, do sorvete que eles vão lá na padaria e consomem”, explica a professora e bióloga Rosinere da Costa.

Desde 2009, uma Lei Federal determina que 30% das verbas da merenda escolar devem ser gastas com alimentos regionais. A alga, matéria prima da merenda, é uma das fontes de renda dos moradores de Barrinha. A coleta e o cultivo de algas é tarefa dos homens. É preciso respeitar o avanço e o recuo das marés.

Se a maré estivesse alta, a água estaria batendo a dois metros de altura. “Então tem que esperar mesmo baixar”, explica o algueiro Maurício Sabino. A comunidade tem um dos maiores banco de algas marinhas do país. A exploração indiscriminada quase acabou com o ecossistema. “Teve um tempo em que as algas se acabaram. Há dois anos, não havia mais alga. Foi o tempo que nós comecemos esse projeto, comecemos a plantar. Hoje o peixe e a lagosta voltaram”, relata outro algueiro da região, Raimundo da Silva.

Junto com a comunidade, a fundação Brasil Cidadão encontrou uma alternativa sustentável de cultivo das plantas. Os algueiros plantam mudas que ficam amarradas em cordas no mar por dois meses. “Quando a gente vai plantar, pegamos uma muda do banco natural. Já está plantado. Com 15 dias, a alga já criou raízes na corda. Na próxima maré que vier, vamos cortar aqui para botar nas outras cordas”, explica Mauricio.

Depois de retiradas do mar, as algas são lavadas e secas. É o beneficiamento. Toda alga coletada no mar é transformada. As algas marinhas se tornam alimentos (mousse, gelatina, iogurte, panqueca).

Para produzir essas delícias, é preciso extrair o ágar, matéria-prima usada no preparo das receitas. “Antes a alga era totalmente destruída, não era cultivada. A gente apanhava na praia. Vendia para o atravessador que exportava para a Paraíba, e de lá partia para fora do país. A renda era mínima. Com o cultivo, a aprendemos a valorizar mais a alga”, relata a algueira Lidmaura da Silva.

“Esse processo é muito importante. Apesar delas terem sido capacitadas, foi uma descoberta para elas. Uma matéria-prima que elas encontram em frente de casa, de fácil acesso, e o mais importante de tudo, é a mudança de atitude dessas mulheres. Passaram de predadoras a cultivadoras”, conta a bióloga Rosinere.
“As coisas que eu conquistei foram através do projeto. Antes eu não trabalhava, não tinha como me manter. Hoje eu tenho. Eu comprei um terreno, que foi o complemento da minha casa”, revela uma das algueiras, Aldeneide da Silva.

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