segunda-feira, 18 de abril de 2011

Situação de emergência no litoral cearense

Os municípios de Cascavel e Icapuí já decretaram estado de emergência. Em várias praias do litoral leste e oeste do Estado, o acesso ao banho está prejudicado. O avanço das construções na área de praia é uma das causas
18.04.2011

Em Barrinha, no Icapuí, a população não tem mais acesso à praia 
por causa dos sacos de areia usados na contenção da maré 
(Foto: IGOR DE MELO )

Rita Célia Faheina
ENVIADA AO LITORAL DO CEARÁ
ritacelia@opovo.com.br

Erosão intensa, edificações prejudicadas, dunas destruídas, faixa de praia coberta de entulhos e pedras. A situação é de emergência no Litoral do Ceará. Tanto no Leste como no Oeste, o mar avança cada vez mais expulsando moradores, fechando o comércio dos que sobrevivem na venda de comidas e bebidas na beira da praia. As queixas são muitas e as obras de contenção para evitar mais prejuízos ainda são poucas.

Mas será que a culpa é mesmo da natureza ou do homem que passou a ocupar áreas que não devia? Os estudiosos e ambientalistas apontam várias causas e, entre elas, principalmente a destruição de dunas, as construções em áreas praianas e o aterramento dos mangues. E, de fato, é o que se percebe nas praias visitadas nos municípios de Cascavel, Beberibe, Aracati, Icapuí, Caucaia e Trairi.

O geógrafo Jeovah Meireles, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), fez a análise de cerca de 150 quilômetros do Litoral cearense e constatou que a erosão é intensa. Segundo ele, o mar tem avançado da década de 90 para cá, entre 150 a 300 metros. Praias como Icaraí, Iparana e Pecém já perderam cerca de um terço de faixa de areia nos últimos anos.

Ele prevê que, daqui a 30 anos, a erosão será muito mais intensa por causa da subida do mar se não forem tomadas providências como a conservação e preservação das dunas, dos manguezais e falésias, além da área de domínio das ondas e marés na praia.

“É importante ainda atuar no planejamento a longo prazo para que não se intensfique essa erosão”. Jeovah Meireles diz ainda ser necessário retirar ou não construir mais, por exemplo, resorts, hotéis e pousadas nas áreas impróprias, como dunas e faixas de praia.

No município de Icapuí, no Litoral Leste do Ceará, a praia da Barrinha é mais prejudicada. O mar já avançou cerca de 200 metros. Dez casas tiveram de ser demolidas antes que fossem derrubadas pelas marés altas. De uma escola - o Centro de Educação Infantil - só restou parte do pátio. O município decretou estado de emergência assim como Cascavel por causa das destruições na praia da Caponga.

“Várias famílias estão morando em casa de parentes”, diz Vanderlei da Costa, que mora em Barrinha. Os moradores colocaram sacos de areia para impedir a erosão.

Vanderlei lamenta que os moradores não tenham mais acesso ao banho por causa das pedras e sacos de areia. Até a estrada de acesso à praia de Barreira foi destruída.

Várias pessoas que ficaram sem suas casas na beira da praia, estão empenhadas em um mutirão para erguer 30 casas num local mais distante em Barrinha. Cristina Marinho é uma delas. “A maré veio com muita força e destruiu tudo. Tem muita gente pagando aluguel ou vivendo em casas de familiares. É uma bênção este mutirão pois vamos ter onde morar”, disse.

Na Caponga, em Cascavel, Litoral Leste, a situação é parecida. Colocaram pedras e sacos de areia para evitar o avanço do mar. As pedras chegam até o muro das casas. Um calçadão foi todo destruído.

O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O avanço do mar tem destruído casas, barracas, calçadões e até um colégio em praias do litoral cearense. Entre as causas, estudiosos e ambientalistas citam a agressão do próprio homem ao meio ambiente.



Construções são o maior problema


“A duna é uma alimentação da praia e com as construções existe uma incompatibilidade entre as construções, o recuo e avanço do mar", explica o especialista em Engenharia Hidráulica e professor da Universidade Federal do Ceará, Erasmo Pitombeira. Ele recorda que, em Mundaú, há 10 ou 12 anos, foi feita um proteção, mas não foi concluído o projeto. Só uma parte. Foi feito um espigão, mas se não tem a manutenção não adianta. Tem que ficar acompanhando.

Na praia de Icapuí, lembra o professor Erasmo, nada foi feito. Quando o mar estava recuado construíram, depois o mar voltou e derrubou tudo. Existe essa mudança de comportamento: avanço e recuo do mar. Assim como as praias de Icapui, ele cita a Prainha do Canto Verde, a Caponga que sofrem alterações devido às ondas fortes. E prevê que pode ocorrer o mesmo em Águas Belas (Cascavel) se não for feito um trabalho de contenção.

O professor Erasmo Pitombeira descarta a relação do aquecimento global com o avanço do mar. São as construções o problema maior. “Temos dunas cobertas por hotéis e a descarga de areia é muito forte".

Fonte: Jornal OPOVO

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