terça-feira, 6 de outubro de 2009

Diário do Nordeste: Ibama intensifica fiscalização contra pesca predatória - Parte 01

Retirado do Jornal Diário do Nordeste (06/10/2009):

Ibama intensifica fiscalização contra pesca predatória


EQUIPE DE FISCALIZAÇÃO conta com equipamentos como computador ,GPS e rastreamento via satélite, para garantir maior segurança nas abordagens em alto mar

O Litoral Leste do Estado está na mira do Ibama que intensifica a fiscalização na pesca da lagosta e camarão

Fortim. Neste período do ano, de muito sol no Ceará, o mar está para peixe, lagosta, camarão, mas também turistas, pescadores... E polícia! Por causa da pesca predatória, a lagosta está escassa, cara e, por isso, disputada, literalmente, a bala por milhares de pescadores. O Instituto do Meio Ambiente (Ibama) precisou intensificar a fiscalização nos 573 quilômetros de costa litorânea cearense. Com rádios, equipamentos de rastreamento por satélite, papel, caneta e revólveres, os fiscais fazem blitz em alto mar e passam por vários momentos de tensão, seja pelo mar agitado ou por criminosos da pesca com problemas que vão da embarcação irregular, utilização de compressores, redes caçoeiras e o frequente consumo de crack. A reportagem do Diário do Nordeste viajou em uma das rotas da operação Impacto Profundo II, 60 quilômetros mar a dentro no raio dos municípios do Litoral Leste, e registrou o difícil trabalho das equipes de fiscalização.

Cinco horas da manhã de sábado, os carros do Ibama se encontram num pequeno porto no litoral de Fortim, a 150 quilômetros de Fortaleza. Com um computador portátil, o fiscal Wagner Soares mostra à equipe a rota do dia: saindo de Fortim até o final da plataforma continental (60km distante da costa), passando pelas áreas de pesca dos municípios de Icapuí e Aracati. A rota é definida sempre poucas horas antes da saída, para evitar que a informação "vaze" para os pescadores. "A nossa grande arma é o fator surpresa", afirmou Rolfran Ribeiro, chefe de fiscalização do Ibama no Ceará. Os pescadores irregulares tentam burlar a fiscalização com a comunicação por rádio amador, interceptado pela equipe de fiscalização que, no trabalho, já ouviu ameaças de furarem e tocarem fogo no barco do Instituto.

Definida a rota, a reportagem embarcou com três policiais da Companhia de Polícia Militar Ambiental (CPMA), dois mergulhadores do Corpo de Bombeiros, os três tripulantes da embarcação e três fiscais do Ibama, sendo dois técnicos e um analista ambiental, os responsáveis pelas autuações. O vento estava forte e o mar relativamente agitado. Complicado para as abordagens em alto mar. Com arriscadas manobras do piloto, o "Macuco Aventura", um bote inflável Flex Boat, com dois motores de 200 cavalos de potência, batia na crista das ondas e desacelerava próximo às embarcações de madeira, à vela ou motorizadas, dos pescadores. Um policial e um fiscal do Ibama saltam para o "Vingador", embarcação de pescadores de lagosta. "Tem muita gente nesse barco, tem muita gente nesse barco", retruca o engenheiro ambiental Daniel Abraão, suspeitando ali de alguma irregularidade no barco com oito pessoas. O momento era de tensão.

Embora estivesse armado, era um policial e um técnico ambiental dentro de uma embarcação desconhecida, para ver o documento de licença de pesca. Depois do sinal de positivo, os fiscais retornam ao barco, mas o policial não consegue e cai dentro d´água, nada até o bote, e quando agarra-se às cordas é imediatamente resgatado pelos companheiros de equipe.

De acordo com Wagner Soares, também fiscal e que ficou em terra coordenando os trabalhos, as embarcações de pesca têm em média cinco pescadores, ou menos que isso quando a pesca é ornamental. Mas o "Vingador" estava com licença de pesca e à primeira vista, regular. Quando a fiscalização se aproxima dos barcos irregulares, os pescadores jogam compressores e redes caçoeiras no mar, demarcam com sinal GPS, via satélite, para voltar no dia seguinte para resgatar o material, dessa vez sem fiscais por perto. Mas essa artimanha está cada vez mais difícil. Com dois mergulhadores do Corpo de Bombeiros, a equipe da operação Impacto Profundo II inspeciona nas águas em torno da embarcação por sinais de compressores, mangueiras e redes.

Prática irregular

As abordagens em alto mar continuaram, e dois pescadores em uma jangada aproveitaram a aproximação dos fiscais para dizer que "passou um barco com compressor, pode olhar que eles estão usando compressor". É comum encontrar barcos com licença para pesca artesanal usando esse artifício para pescar com compressores. A prática irregular já matou e invalidou dezenas de pescadores-mergulhadores. Estima-se que todos os anos morram entre quatro e cinco pescadores devido esse tipo de prática.

"Muitos pescadores que mergulham com compressor consomem droga para aguentar o trabalho e acabam viciados em crack. Os caras descem chapados", coloca Wagner Soares. Então, além de instrumentos irregulares de pesca, barras de crack são encontrados nas embarcações.

Sol na cara o tempo todo, um sobe e desce em alta velocidade contra as ondas, a rotina das equipes é desgastante, e são constantemente revezadas. A troca de fiscais ocorria a cada 15 dias, mas deverá ser semanalmente, e a cada oito dias são trocados os policiais.

Nos primeiros dias, alguns da equipe sofrem de enjoos estomacais, devido a turbulência do movimento no mar.

SURPRESA
A nossa grande arma para o sucesso da fiscalização é o fator surpresa na operação"
Rolfran Ribeiro
Chefe da fiscalização do Ibama

Mais informações
Instituto brasileiro do Meio Ambiente (Ibama)
Escritório em Fortaleza
(85)3272.7370

MELQUÍADES JÚNIOR
COLABORADOR

FONTE: DIARIO DO NORDESTE

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