quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Artigo - O socorro da princesa da Pedra da Moça: mito ou verdade?

De volta às problemáticas das dificuldades porque passa a população local em função de circunstâncias diversas, entre elas os conflitos em volta da pesca da lagosta, e em decorrência disso a desaceleração econômica do município, penso que poderíamos estabelecer reflexões que utilizem, inclusive, elementos simbólicos via expressão cultural do município e suas lendas e o poder interpretativo que elas podem trazer para os dias atuais.

Há um bom tempo atrás, sentado com um pescador ouvi atentamente a versão que ele tinha da história da Pedra da Moça. A lenda falava de uma princesa encantada e de um reino cheio de belezas e riquezas, onde vivia um povo feliz e cheio de bem estar. Tal reino se estendia da Ponta Grossa aos manguezais da Barra grande e a princesa encantada estendia seus domínios por todo este seu território. Passagens da lenda falava das tentativas de contato com os transeuntes e visões diversas de quem morava perto da pedra. Falava-se na lenda, inclusive, que os riscos e rabiscos das traiobas e búzios (que me socorram os biólogos locais se agrido e confudo os nomes desses bichinhos, rs), eram mensagens deixadas ao povo pela princesa para orientar seus súditos.

As visões relatadas traziam imagens belas de grandes casas e palácios, jardins e riquezas, alegria e paz que esse povo tinha. Numa delas, porém, um morador havia feito contato com a princesa e esta lhe confessou a existência de um grande tesouro no reino, enterrado bem no maguezal da Barra Grande e que, para desenterrá-lo, este deveria levar alguém junto com ele. A princesa, no entanto, avisava que na busca do tesouro, e por suas imensa riquezas, correria o risco de acontecer uma grande briga entre os dois e um deles seria destruído, morto, e o que sobrevivesse, ficaria com o tesouro. E o reino teria fim. A princesa permaneceria encantada.

Qualquer semellhança não é mera coincidência. E por incrível que pareça, passagens da lenda nos convida a estabelecer relações com o real. Não sendo a questão desse ensaio fazer a interpretação do mito com a história de Icapuí, empreitada que ainda farei, prefiro centrar-me na princesa, no seu reino e na sua presença nestes domínios.

Quero crer que há uma busca do tesouro do reino encantado sim. E não é de hoje. Com um olhar mítico e curioso, penso que os fenômenos de proliferação de búzios, siris, carabebas, e outros frutos do mar entranhadamente surgidos de forma volumosa em épocas tão difíceis e que vem, percebam, mantendo o povo mais feliz, mais alimentado, socorrendo em momentos de penúria, seja o socorro da princesa para acudir seus súditos. Ela parece generosa. Enquanto desejosos de tesouros escondidos se gladiam entre si para ver quem fica com o tesouro e quem sucumbe no "manguezal da Barra Grande", o reino se desfigura, o povo entristece, as belezas são destruídas, e as riquezas se esvaem.

Numa atitude delicada, a princesa, que é mãe desse reino, mobiliza as forças naturais para dar alimento e vida a seu povo, oferta em abundância aquilo que pode oferecer. Quem não viu ultimamente alguém descobrir um local onde superabunda carapicus, ou camarão, ou siris, ou búzios, ou saúnas, etc, e espalhar na cidade e todos acorrerem a esse local para pegarem sua parte? Uma festa!!! Serve para comer, vender, distribuir, até "tomar umas", etc. Muitos vem tirando o ganha pão desses momentos. Isso traz mais conforto a um povo cheio de dificuldades.

Que bom que seja assim. Enquanto a princesa continuar a amar o seu reino e o queira socorrer, e enquanto um corajoso rapaz não se atreva a encaixar o pé na pedra da moça e desencantar o reino (isso também tem um sentido real, acreditem!), o povo terá quem cuide dele e o socorra em suas necessidades! Alguém se habilita a salvar o reino?

4 comentários:

A Cidade Icapuí disse...

Clotenir...

Esse texto está divinamente emocionante. Vc conseguiu expressar de forma poética uma realidade nossa. Os mistérios, os encantos, as fantasias de um povo que é feliz por viver aki. TErras de personagens fantásticas e de um povo apaixonado por suas belezas!

Parabéns!

OBS: Fiz uns ajustes na formatação do texto (não alterei o conteúdo).

Rabelo, C.D. disse...

Valeu, querido. Tentei mesmo colocar direito mas não domino as ferramentas.

Marquinhos disse...

Maravilhoso texto, cheio de encanto. Clotenir, isso mostra o quanto nossa terre e rica em todos os aspecto e principalmente suas histórias contada pelo povo que busca a sua felicidade.

Anônimo disse...

o que mais interessante é o contexto da historia da pedra de sereia, com o conflito da pesca da lagosta em Icapui.