terça-feira, 16 de novembro de 2010

Diario do nordeste:Labirinto de emoções

Foto: Diário do Nordeste
Encontramos uma matéria publicada na edição de 28 de março deste ano, dentro do especial do Caderno Eva do Diário do Nordeste intitulado "mãos que fazem história" abordando o diversos artesanatos produzidos no Ceará. O labirinto foi um deles, sendo característico do litoral leste do Estado. Neste caderno foi feita uma reportagem com Dona Lourdes da Comunidade de Morro Pintado. Por isso resolvemos reproduzir essa fantástica matéria em nosso blog, veja abaixo:

Labirinto de emoções



28/3/2010
Juta, linho, cambraia de linho ou organdi. Basta ser tecido para Maria de Lourdes Rebouças da Silva, 67 anos, começar a cortar, desfiar, desenhar, perfilar, trançar, preencher, casear, ufa! Ninguém imagina quantas etapas são necessárias para se concluir uma peça de labirinto.

Apesar das dificuldades registradas nos últimos anos na comunidade de Morro Pintado, em Ibicuitaba, distrito de Icapuí (Litoral Leste), Maria de Lourdes continua acalentando sua paixão pelo labirinto. Passou a desenvolver a técnica por volta dos sete anos, graças à mãe, Maria, 86. "O artesanato me ajudou muito, desde a construção da casa até à formação dos meus filhos", destaca.


Como professora, Maria de Lourdes ensinou por vários anos na rede municipal de ensino, emprego pelo qual se aposentou. Trabalhou também na roça, mas nunca abandonou a tela de labirinto.

Família

Casada com o agricultor Vicente Zacarias da Silva desde 1970, sempre pôde contar com o marido na lida doméstica. Dos nove filhos, quatro são adotados. Professoras formadas, as cinco mulheres sabem fazer labirinto, mas apenas duas se dedicam ao artesanato como atividade paralela.

Mesmo com a família grande, a artesã sempre se envolveu com atividades extras, a exemplo da Associação dos Moradores do Morro Pintado, da qual foi presidente na década de 1980. Nessa época, conseguiu criar a horta comunitária e abrir o posto de saúde.

Em 1998, a labirinteira teve o primeiro contato com a Ceart. A partir de então, começaram a chegar as encomendas e os convites de viagens para expor o labirinto produzido no Ceará. "Eu aprendi demais com toda essa experiência. Passamos a ser mais valorizados", recorda. Segundo ela, essa foi uma das melhores fases do artesanato cearense, quando a primeira-dama do Estado era dona Renata Jereissati.

Inovação

Sem conseguir ficar parada, Maria de Lourdes sempre arruma o que fazer, inclusive trabalho para mulheres da comunidade. Até empréstimo no banco já solicitou para poder pagá-las por uma encomenda de 540 peças. Hoje, os pedidos grandes são raros. Em compensação, suas criações correm o mundo. Já produziu 50 camisas para a África e até mantilha para uma noiva da Itália. "Gosto do diferencial, de criar e de mudar", explica.

O labirinto feito na juta é algo mais recente. Surgiu em 2005, quando recebeu a primeira encomenda de uma ONG. Mesmo sendo matéria-prima de origem rústica, o resultado é perfeito. Embora a juta seja mais rápida de tecer, a paixão da artesã é mesmo pela delicadeza da cambraia de linho.

Maria de Lourdes já ensinou a técnica a muitas mulheres, mas lamenta o desinteresse das jovens locais. Por isso, deposita toda a esperança da continuação do ofício em duas netas: Tainá, 7 anos, e Emily, 9.

Maria de Lourdes tem 11 netos. Entre eles, aposta no talento de Tainá, 7 anos (foto), e Emily, 9, que estão aprendendo com a avó todos os segredos do labirinto.
 

Um comentário:

Corpo meu, minha morada! disse...

Que lindo! Dona Lourdes é uma GUERREIRA!

Laís