sábado, 13 de março de 2010

Diario do Nordeste faz matéria sobre o avanço do Mar em Icapuí

Foto: Talison Layala

O jornalista Melquiades Júnior foi responsável pela matéria "Avanço do mar causa medo" no Jornal do Diário do Nordeste na edição de hoje (13/03), onde relata a situação da Comunidade da Barrinha em Icapuí.

O blog noticiou esse mesmo fato em na materia de 06 de março, entitulada "Praia de Barrinha e a força da natureza".

Segue abaixo a reportagem:

Avanço do mar causa medo

13/3/2010 - Melquiades Júnior

Nos últimos seis anos, o avanço do mar vem causando medo e preocupação entre os moradores de Mutamba

Icapuí. Morar de frente para o mar já foi bom para as comunidades de pescadores da Praia da Barrinha, neste município. Agora, medo e preocupação são o sentimento de centenas de famílias que moram em Mutamba, zona litorânea de Icapuí que compreende várias praias. Com o aumento da força das marés, o mar está engolindo as praias e levando, pouco a pouco, as casas de famílias de pescadores, que tentam, com pouco sucesso, amenizar o problema criando uma muralha de pedras. O avanço colocou neste ano uma escola em zona de risco. Problemas análogos enfrentam várias praias do Ceará.

Da casa da mulher de pescador, Rosileide Pereira, o mar levou o pé de castanhola e a esperança de viver "para sempre" de frente para o mar. Não tem mais motivo para uma sombra na calçada de casa, pois calçada não há. Nos dois primeiros meses deste ano, a maré, de tão alta, subiu que "lavou" a entrada da casa de Rosileide e da vizinhança. A dona-de-casa juntou os móveis e foi para um prédio público, ainda na comunidade, mas onde o mar não chegou. Diminuída a força das águas, retornou neste mês para sua casinha. A irmã, que morava ao lado, também juntou as coisas, saiu, mas não voltou para o mesmo lugar: arrumou um lar seguro dentro da cidade.

Sina de morador

Sair da frente do mar parece a sina dos moradores de várias praias da vila de Mutamba. Praias como Barreira, Barrinha e Requenguela enfrentam o mesmo problema. "A gente precisa ficar direto atenta, olhar pro mar de manhã, e ficar olhando, porque se a maré sobe tem que tirar tudo. E digo uma coisa: ir pra onde?", conta Rosileide. Em janeiro e fevereiro, quando a maré estava muito mais alta, algumas famílias foram para um prédio público da comunidade, onde funciona o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), que estava em férias letivas.

Algumas pousadas à beira-mar na Praia da Barrinha foram desativadas. A poucos metros dos escombros de um prédio está o Mercadinho Maré Mansa, construção antiga e um inocente paradoxo a 50 metros de onde as ondas estão alcançando neste mês, considerado menos preocupante pelos moradores. O avanço do mar intensificou-se nos últimos seis anos, de acordo com a moradora Elisa Viana. "Foi em 2004 que a gente começou a ver o mar engolir rapidamente a praia, os coqueiros, e veio na direção das casas", comenta a moradora.

Na Praia de Barrinha moram cerca de 120 famílias, que vivem principalmente da pesca. Os moradores sabem que a saída para outro lugar salvará seus corpos, mas dificultará também o turismo, à medida em que a paisagem é complementada pelos escombros das primeiras casas destruídas. O pescador Antônio José da Costa diz já ter visto mais de 200 metros de praia desaparecerem, em poucos anos. A dona-de-casa Marinete Rodrigues mora com dois filhos adolescentes. Mais do que de assaltos e da violência humana, tem medo do mar.

O avanço do mar é um problema enfrentado pela costa cearense há muitos anos. Falta monitoramento, sobra reclamação das comunidades de praia em Icapuí, Cascavel e Caucaia, neste último onde um projeto avaliado em R$ 50 milhões é apontado como a solução para conter as águas.

Os primeiros estudos sobre o tema estão concentrados no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará. No caso de Cascavel, mais precisamente na Praia da Caponga, estudos do pesquisador Eduardo Gentil apontam avanço de sete a oito metros por ano. O Ceará tem, pelo menos, sete áreas que mais sofrem com o avanço do mar. A média de avanço do mar no Estado é de 60cm a cada ano, muito aquém do que acontece em Icapuí, com áreas sofrendo avanço próximo de 10 metros ao ano.

Os moradores, com a ajuda da Prefeitura Municipal de Icapuí, têm depositado pedras de calcário na frente das casas, como forma de amenizar o impacto das ondas. No mesmo município, na Praia de Barreiras, uma obra de contenção do mar foi realizada e até agora está dando certo. Um "paredão" de 150 metros impede o mar de avançar. Não tira a preocupação dos moradores também desta praia, mas a obra é vista como a solução pelas famílias das praias vizinhas naquele litoral.

Uma obra, avaliada em R$ 5 milhões está prevista para projeto de contenção do avanço do mar na orla de Icapuí, não só na Praia de Barrinha. Por telefone com a reportagem, o deputado Federal José Airton, quem já foi prefeito de Icapuí, disse que o recurso foi conseguido com o Governo Federal. "Virá pelo Ministério da Integração Nacional, estive este mês com o ministro Geddel Vieira, e a Prefeitura de Icapuí está levando a documentação do projeto". Enquanto a maré diminui as forças neste mês, uma escola pública que, literalmente, divide o muro com o mar, continua ativada, com mais de 200 crianças e adolescentes estudando, ouvindo, de um lado a voz, da professora e de outro as ondas do mar. Um som cada vez mais próximo.


Fonte: Diario do Nordeste

Nenhum comentário: