domingo, 13 de fevereiro de 2011

Artigo: Realidades distintas, Soluções semelhantes

Escrito por  Daniel de Granville
Rede Ambiente

Em linha reta, quase 2.500 quilômetros separam a pequena Icapuí, no Ceará, do Pontal do Paranapanema, São Paulo. No meio do caminho tem a Caatinga, o Cerrado e a Mata Atlântica. Tão distantes e tão diversas em termos sociais, ambientais e culturais, projetos bem-sucedidos nas duas regiões baseiam-se em processos parecidos que visam oferecer formas de vida mais sustentáveis e dignas para seus habitantes. Dentre as ações para atingir seus objetivos, percebe-se que existe muita coisa em comum. Além de trabalhos que se assemelham, ao associar saber científico e conhecimentos tradicionais, soluções para problemas semelhantes em realidades tão distintas vieram através das chamadas tecnologias sociais – designação dada aos produtos, técnicas ou metodologias geralmente simples, de baixo custo e desenvolvidas a partir de demandas indicadas pelas comunidades envolvidas.

Em Icapuí, o Projeto "De Olho na Água" atua em diversas frentes cujo ponto de convergência, como o próprio nome sugere, são os recursos hídricos. Diretamente relacionados à água, são desenvolvidos trabalhos como o monitoramento constante de qualidade das águas em 34 pontos da costa, construção de sistemas simples – com baixo custo – para captação de água das chuvas nas residências e instalação de canteiros bio-sépticos (sistema natural de tratamento de esgoto doméstico utilizando plantas como bananeiras). De forma indireta, mas sempre tendo como objetivo final o uso racional da água, são realizadas pesquisas científicas sobre a diversidade biológica da região, trabalhos de capacitação de monitores ambientais para desenvolvimento de atividades de ecoturismo, plantio de mudas nativas nos manguezais e a publicação de vários materiais de referência, como guias regionais de aves e mamíferos e um manual sobre sistemas de captação de água da chuva e construção dos canteiros bio-sépticos. Na questão da biodiversidade e do ecoturismo, destaca-se a presença na região do peixe-boi-marinho, espécie ameaçada de extinção e que pode vir a ser um atrativo em atividades turísticas de observação de vida selvagem.

Já no Oeste Paulista, o Pontal do Paranapanema ficou conhecido principalmente pelos violentos conflitos agrários nas disputas entre ruralistas, sem-terra, políticos e ambientalistas. Foi justamente em meio a este "barril de pólvora" que se instalou a Sede do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), hoje considerado uma das maiores Organizações Não-Governamentais ambientais do Brasil e um exemplo de articulação entre o terceiro setor, as empresas e o meio acadêmico. A atuação do Instituto sempre teve foco no envolvimento comunitário como forma de conscientização para defesa da biodiversidade. De forma semelhante ao Projeto de Olho na Água, o IPÊ mantém cientistas em seus quadros e tem forte ênfase no trabalho em conjunto com as comunidades locais. O Instituto sempre reforça a importância em se respeitar as tradições, no que se refere às comunidades das regiões onde atua e suas práticas tradicionais. Ações como o Viveiro Escola, que produz mais de 500 mil mudas por ano, auxiliam na recomposição florestal e na renda das famílias de assentamentos rurais, que realizam cultivo agrícola pelo sistema agrossilvipastoril – uma forma de uso da terra no qual espécies arbóreas nativas são combinadas com o cultivo agrícola e/ou a criação de animais, em uma interação que traz benefícios ecológicos e melhorias econômicas aos pequenos produtores. Um exemplo de sua aplicação é o Projeto Café com Floresta, que realiza o plantio de mudas de café em meio às árvores nativas, com benefícios comprovados. E, mais uma vez atuando de forma semelhante ao Projeto do distante Nordeste brasileiro, o Instituto mantém o "Espaço IPÊ", onde são desenvolvidos trabalhos de educação ambiental com a comunidade.

De Norte a Sul, de Leste a Oeste: a maneira como estas duas instituições atuam, em áreas tão distantes do Brasil, são um belo exemplo prático de como o compartilhamento e a disseminação de experiências podem encurtar distâncias e ajudar a melhorar a vida das pessoas em todo o país, sempre em harmonia com os ambientes naturais.

É uma opção estratégica para produtores familiares, graças à diversificação da produção e rentabilidade. Além disso, fornecem numerosos serviços socioambientais, que podem ser valorados, com potencial de serem convertidos em créditos ambientais e, assim, aumentar o valor agregado da propriedade agrícola.
Um aspecto que determina a sustentabilidade desses sistemas é a presença das árvores, que têm a capacidade de capturar nutrientes de camadas mais profundas do solo, reciclando-os eficientemente e proporcionando maior cobertura e conservação dos recursos edáficos.

O Sistema Agroflorestal objetiva otimizar a produção por unidade de área, com o uso mais eficiente dos recursos (solo, água, luz, etc.), da diversificação de produção e da interação positiva entre os componentes.

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