quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Artigo: Eu quis dizer você não quis escutar

Escrito por José de Arimatea da Silva
Geografo

Não dar mais para ignorar o que vem acontecendo com nosso planeta, só este ano houve um aumento grandioso de catástrofes naturais de grandes proporções que chamaram a atenção até dos mais leigos para as problemáticas das questões ambientais que tem sido acelerada por fatores antrópicos. Quem não se lembra do trágico reveillon de Angra dos Reis com o deslizamento que matou mais de 40 pessoas, do terremoto do Haiti com mais de 200 mil mortos, o deslizamento do Morro do Bumba no Rio de Janeiro, do Terremoto no Chile, da destruição da Ilha da Madeira em Portugal, do vulcão na Islândia que aterrorizou as cidades europeias com suas nuvens de cinzas, do terremoto na China, das enchentes que arrasaram várias cidades no Nordeste principalmente nos estados de Pernambuco e Alagoas, a seca na Amazônia, enfim se eu for listar tudo irei tomar parte deste artigo. Sabemos que eventos naturais, como diz a própria palavra, são naturais, porém, na proporção e intensidade que eles estão acontecendo, fica bem claro que a ação do homem tem sido determinante nesse processo.

Dentro dessa realidade, precisamos estar preparados para conviver com as mudanças no cenário climático que temos a enfrentar daqui pra frente, é uma questão de readaptação e mudança de atitude para que possamos permanecer por mais tempo no planeta. Mas nem tudo está perdido “ainda”, se mudarmos a nossa forma de agir, conseguirmos frear ou pelos menos amenizar os níveis degradação dos nossos ecossistemas, diminuir as emissões de CO² na atmosfera, poderá ter uma luz no final do túnel. Outro fator importante é repensar o modelo de desenvolvimento, deixando de lado o desenvolvimentismo inconsequente e adotar uma postura sustentável, tendo o planejamento e visão de futuro como ferramenta.

Tomando a dimensão global como base, vamos partir para uma visão local e tentar avaliar ou pelo menos entender como tudo isto está relacionado ao nosso território, onde na maioria das vezes pensamos estar “isolados”, protegidos e que não temos nada haver com isso. Para começo de conversa fazemos parte de um planeta que todas as coisas estão interconectadas em seus mais diversos aspectos físicos, biológicos, químicos, sociais, culturais. Vivemos como numa teia de aranha onde cada fio tem sua importância, e quando um fio se solta todo o resto desmorona. Neste contexto, vamos entender nosso espaço relacionando a degradação ambiental aos efeitos climáticos.

Icapui está localizado no extremo litoral leste do Estado do Ceará, as zonas litorâneas passarão por processos transformadores com o avanço do mar previsto pelo IPCC, previsão esta que está se confirmando em nível local na comunidade de Barrinha, além disso, é fato que as zonas de berma em Icapuí, áreas de atuação dos fluxos de matéria e energia que matem a dinâmica das praias e áreas de sazonalidade de atuação das marés, estão completamente ocupadas, tornando estes locais de grande vulnerabilidade à ação do avanço do mar. A construção de muros de contenção e espigão seriam a solução? NÃO! Isto resolve temporariamente, e vale ressaltar que os espigões e muros de contenção comprometem a dinâmica natural das correntes e os fluxos sedimentares ocasionando problemas a oeste da construção, na verdade é a resolução a curto prazo de um problema que vai gerar outros problemas a médio e longo prazo, um exemplo bem claro disso é a praia da Caponga no município de Cascavel. O ideal seria desocupar os setores de atuação diretas das marés, inclusive cumprindo a Legislação Brasileira que há muito tempo proíbe construções nessas áreas.

Outro fator importante a ser considerado é a ocupação das bardas das falésias que circulam o município. Além da ocupação dessas áreas os moradores retiram a vegetação que protege e fixa o solo deixando-o vulnerável a deslizamentos e escoamentos superficiais. Mesmo com previsões da diminuição de chuvas nas regiões semiáridas (apesar de estarmos no litoral estamos numa zona climática semiárida) as chuvas tendem a ficar mais irregulares tanto na distribuição quanto na quantidade, lembre-se que no ano passado em um único dia tivemos uma chuva de 213 mm, e com o solo exposto, a impermeabilização de vários setores de infiltração e as casas na borda da encosta, os riscos tendem a aumentar.

Também é importante considerar a impermeabilização das áreas de infiltração da água de chuva e aterramento dos sistemas lacustres, ano passado já tivemos problemas com alagamentos, e a tendência é aumentar gradativamente, pois as áreas naturais de acúmulo de água e as zonas de maior permeabilidade estão sendo ocupadas, restando depois das chuvas grandes chuvas os transtornos, aí todo mundo coloca a culpa em Deus .

Não é preciso muito conhecimento para entender tudo isso, é preciso raciocínio para entender que a natureza é um processo dinâmico e não dominamos esses processos, apenas temos que nos inserir neles de forma harmoniosa, é preciso ter visão de futuro, pensar como serão as coisas daqui a 20, 30, 50 anos e utilizar como ferramenta o planejamento e o princípio da precaução, para depois não sofrer com consequências desagradáveis. Depois não diga que eu não avisei.

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