terça-feira, 25 de maio de 2010

Diario do Nordeste: Pescadores lutam para manter seu sustento

A ultima reportagem que tomou duas paginas do Caderno Regional do Diário do Nordeste de hoje é sobre a luta pelo sustento dos pescadores. Foto e texto do jornalista Melquiades Junior.


Pescadores lutam para manter seu sustento

25/5/2010
Os pescadores artesanais disputam espaço com os "alternativos", pois é da lagosta que sobrevivem
Foto: Melquiades Junior

Icapuí. "Se falta lagosta, a gente tem que se virar de qualquer jeito. Não tem outro sustento, é esse". O depoimento de Eduardo Batista, pescador de Icapuí, é "assinado embaixo" por Gilcidene, Normando, Eucana, Maurício e outros milhares de pescadores da lagosta no Ceará. Não só os artesanais, assim como eles, quanto os "alternativos", que promovem a pesca predatória. De um jeito ou de outro, é a produção da lagosta cearense que sustenta milhares de famílias nos litorais Leste e Oeste do Estado. Ibama intensifica fiscalização da pesca irregular, mas os grupos organizados de controle e fiscalização à revelia das leis do Estado, em nome da pesca sustentável, também gera conflitos antecedidos de ameaças entre os pescadores das praias rivais. Dia e noite grupos fazem vigília dentro e fora do mar. Crescem as chances de novos protestos em terra.

No ano passado, grupos de famílias de pescadores "alternativos", como se chamam os que utilizam marabaia e compressores para a pesca em mergulho, fizeram protestos contra a fiscalização arbitrária e ilegal dos pescadores artesanais, liderados pelos "redondeiros". As ruas de Icapuí foram ocupadas, barricadas levantadas, pneus queimados, carros incendiados e a Câmara Municipal apedrejada e bombardeada com artefatos caseiros. A reivindicação: que os órgãos competentes proíbam as fiscalizações feitas pelos pescadores e que os órgãos públicos atentem para os conflitos, enquanto estavam no mar, só eram noticiados pelas comunidades e pela imprensa.

Durante todo o ano passado, a Prefeitura Municipal de Icapuí não fez pronunciamentos oficiais de intervenção no impasse entre os dois grupos de pescadores. Um dos barcos apreendidos no ano passado pelos "redondeiros" pertencia ao prefeito de Icapuí, mas estava arrendado para um pescador.

Enquanto isso, num galpão na vila da Praia de Redonda são depositados os equipamentos proibidos capturados dos pescadores alternativos, sem chances de recuperação. Nem mesmo o Ibama apareceu para conferir o material apreendido.

Barcos ilegais

E os barcos ilegais, "estão aqui para quem quiser ver, fica como exemplo, de que não podemos permitir a pesca com compressor. Não sei o que passa na cabeça desses pescadores, eles não entendem que estão prejudicando o meio ambiente, fazendo acabar a lagosta e prejudicando tanto eles quanto nós da pesca artesanal", explica Maurício Valente, que é da Associação de Moradores Monsenhor Diomedes, de Icapuí.

Depois que passaram as "vagas gordas", de 20 anos atrás, quando o mar cearense tinha lagosta "para dar e vender" e se chegava com até 35 quilos de lagosta, atualmente um pescador artesanal captura, nos dias bons, cerca de 15kg de lagosta, que são levadas para terra ainda vivas, o que valoriza o produto. Ao mesmo tempo, um pescador que utiliza redes de arrasto, compressores de ar e captura os crustáceos mesmo no fundo do mar, matando-os em seguida, consegue retornar com até 400kg de lagosta.

Essa prática tornou-se muito comum. Aumentou os rendimentos - principalmente para os grandes atravessadores, que comercializam com o mercado europeu -, mas fez diminuir, gradativamente, a presença da lagosta no mar cearense. Quando falta lagosta no mar, o preço desse produto sobe na mesa do consumidor, mas nem sempre é transferido desde a pesca. Os pescadores reclamam que, enquanto o produto é vendido a preço de ouro, são mal remunerados pelo pescado.

Só mais recentemente o Ibama aumentou a fiscalização da pesca predatória da lagosta no Ceará. Em 2009 foram apreendidos 180 mil metros de rede caçoeira, 22 compressores, 4.500kg de lagosta e mais de 160 multas em embarcações sem registro para o tipo de cultura que estava pescando ou mesmo sem permissão para qualquer atividade. Uma embarcação fiscalizadora com técnicos do Ibama fiscaliza todo o dia as principais regiões de conflito em Icapuí. "O problema é que quando a gente sai, eles voltam a brigar", disse Rolfran Ribeiro, chefe de fiscalização do órgão. Os mais de 570km de costa cearense possuem 103 pontos de desembarque de pescadores, para que seja monitorada por uma equipe de pouco mais de 20 fiscais do Instituto. Segundo a superintendência do Ibama, será dada atenção maior às áreas litigiosas entre os mares de Icapuí e Aracati.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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