quinta-feira, 19 de maio de 2011

Artigo: As condições de vida e a educação dos povos do mar pautadas nas ações extensionistas da UFC

Msc. Mari Cecília Silvestre da Silva,
Técnica da Secretaria Municipal de Educação de Icapuí-CE
Dra. Maria do Céu de Lima,
Profa. Depto. de Geografia e Coordenadora do LEAT-UFC

Para transformar a escola e a universidade em espaços onde a cultura acadêmica e das realidades locais possam dialogar com os currículos escolares, é importante reconhecer que as experiências educacionais se desenvolvem dentro e fora das escolas. No entanto, é atribuída à escola toda a responsabilidade formativa dos cidadãos, principalmente de crianças e jovens. Sem dúvida cabe à escola a sistematização do conhecimento universalizado, mas o sucesso de seu trabalho, em muito pode ser enriquecido ao ampliarem-se as trocas com outras instâncias sociais. A universidade pública tem um papel de destaque e pode atuar para melhorar a educação do campo[1]. Tal pensamento implica assumir uma disposição para o diálogo e para a construção de projetos pedagógicos que contemplem princípios e ações compartilhadas na direção de uma educação integrada de responsabilidade tanto de espaços escolares como de comunidades.

A partir dessas discussões, foi construída a Proposta de Educação Interdisciplinar Contextualizada dos Povos do Mar que passa pela formação de professores e construção de currículos e materiais didáticos contextualizados. Essa é uma iniciativa inovadora que vê a importância da busca de uma educação de qualidade e que atenda às demandas do desenvolvimento de base local, com vistas à sustentabilidade da vida das comunidades pesqueiras marítimas do Ceará, que apresentam singularidades e, ao mesmo tempo, traços comuns e sofreram, nas últimas décadas, transformações bruscas, num contexto da valorização da zona costeira, com o desordenado processo de urbanização e com a intensificação de novas atividades econômicas, o aumento do uso das já precárias infra-estruturas nas localidades e descaracterização das atividades tradicionais da pesca e da agricultura de subsistência.


Esta proposta foi apresentada para o grupo de Licenciaturas da UFC que resultou no Projeto Interdisciplinar de Formação Continuada para Professores de Comunidades Pesqueiras do Ceará – PROEXT-MEC/UFC, realizado no período entre 2009 e 2010. Para desenvolvê-la envolveram-se três escolas: EEF Horizonte da Cidadania (comunidade de Redonda, Icapuí), EEF Joana Marques Bezerra (comunidade de Barreiras, Icapuí), EEF Emília Queiróz (comunidade de Pontal do Maceió, Fortim). Contou com a participação e coordenação dos professores da Universidade Federal do Ceará: Dra. Maria do Céu de Lima (LEAT – UFC, Depto. de Geografia), Dra. Carmensita Matos Braga Passos (FACED), Dr. Afrânio de Araújo Coelho (Depto. de Física), e, também, com a participação e coordenação local das técnicas da Secretaria Municipal de Educação Mari Cecília Silvestre da Silva (Icapuí) e Hélia Silvano da Silva (Fortim). Esse projeto foi articulado no sentido de oportunizar que os saberes acadêmicos produzidos, de modo especial sobre a realidade da zona costeira cearense, fossem acessados por profissionais que atuam nas redes municipais de ensino de Icapuí e Fortim e pelos estudantes dos cursos de licenciatura em Geografia, Pedagogia e Física da UFC envolvidos com o projeto.

Os resultados alcançados até aqui foram o aprofundamento do olhar para as novas possibilidades de construção de saberes oriundos de distintas experiências e capazes de possibilitar aprendizagens significativas, em que o ser humano possa ser o sujeito de sua própria educação, não somente objeto dela. Como ser inacabado não deve render-se, mas interrogar e questionar; não apenas reproduzir, mas produzir conhecimentos.

No exercício de produzir conhecimentos os professores e professoras envolvidos realizaram pesquisas e elaboraram textos e outros materiais acerca de diversas temáticas do contexto local, num exercício inicial que pretende ser incorporado à pratica de docente. Vencido esse primeiro desafio passamos, em 2011, ao planejamento e execução de pesquisas com os alunos e alunas dessas escolas efetivando a prática de produção de conhecimentos dentro das escolas.

Esta prevista, também para este ano, a produção de uma coletânea de textos sobre as principais temáticas que emergiram das discussões durante o Projeto Interdisciplinar de Formação Continuada de Professores e de outro material paradidático que possa enriquecer e dar subsídios para a prática docente nessas escolas. Esse desafio está posto para o coletivo de professores, tanto do município, quanto da UFC como uma etapa a ser vencida dentro desse projeto experimental, mas criando o alicerce de uma experiência válida que pretende contribuir para a transformação qualitativa da práxis educativa e da vida em comunidades tradicionais pesqueiras do Ceará.

Sem abrirem-se para a comunidade a universidade pública e a escola dificilmente cumprirão seus papéis sociais. A comunidade, por sua vez, não pode e nem deve prescindir da universidade e da escola para seus projetos. A educação no âmbito da comunidade tem dupla dimensão: a comunidade como agente “educador” e, ao mesmo tempo, como sujeito (coletivo) que se educa.


[1] A educação do campo tratada como educação rural na legislação brasileira, tem um significado que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O campo, nesse sentido, mais do que um perímetro não-urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da existência social com as realizações da sociedade.

Fonte: Portal do Mar 

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