segunda-feira, 2 de maio de 2011

Diário do Nordeste: Das terras antes secas, surge maior fazenda de melão do mundo

Plantação de melão da Fazenda Formosa
Foto: Diário do Nordeste
01.05.2011
Diário do Nordeste - Caderno Negócios

Das terras antes secas, surge maior fazenda de melão do mundo

Do sal, passando pelo petróleo, Mossoró procurou diversificar sua economia, apostando no setor primário

Mossoró (RN)

Para se chegar lá, saindo da área urbana de Mossoró, percorre-se um bom pedaço envolvido pelas imagens clássicas do sertão, no cinza-amarronzado da vegetação seca. Até que em um ponto, desbravando a aridez da caatinga, surge o verde, agora já dominando a paisagem. Chegamos às terras irrigadas da maior fazenda de melão do mundo, uma das oito que o grupo Agrícola Famosa possui entre o Ceará e o Rio Grande do Norte.

Mossoró, que vivia do sal, e depois descobriu o petróleo que a fez avançar no caminho de se tornar uma metrópole, também buscou diversificar sua economia para o setor primário. E o investimento vingou. A cidade já é o maior polo produtor de fruticultura do Estado, desbancando o município de Açu, antes centro da atividade. Essa mudança deu seus primeiros passos ainda em meados da década de 1960, com o pioneirismo da Maisa, empresa de capital local que se debruçou sobre a agricultura irrigada. Aos poucos, outros investidores foram surgindo e o polo foi se consolidando. A Maisa virou Nolem, que, então, foi adquirida pela Agrícola Famosa. E assim, esta, além de se tornar a maior produtora de melão do mundo, já é a maior exportadora de frutas de todo o Brasil.

Há 17 anos, a Agrícola Famosa entrou no mercado, instalando a fazenda em Mossoró. Desde o começo, o melão foi o carro chefe. Mas também há outras culturas em desenvolvimento, como aspargo, tomate, milho e até mesmo na atividade pecuária, com o gado, e a piscicultura. Mas o melão é, de longe, o principal cultivo da região.

Exportações

A Famosa exportou, em 2010, cerca de seis mil contêineres para países como Inglaterra, Espanha e Holanda, e comercializou um volume superior a mil contêineres com o mercado interno, o que totaliza cerca de 135 mil toneladas da fruta. Desse montante, 55% foram produzidos na fazenda de Mossoró, que é responsável por três mil, dos cinco mil empregos gerados na empresa.

A fazenda possui sete mil hectares, além de outros três que foram agregados a esta área com a compra da Nolem.

Com todo este terreno produtivo e com uma produção altamente tecnificada, a Agrícola Famosa movimenta a região. Por semana, são 300 carretas só de melão saindo de lá. "E em 10 anos, queremos ser 10 vezes maiores do que somos hoje", planeja Carlos Porro, diretor comercial da empresa. "Vamos gerar nessa safra 100 milhões de dólares com a nossa produção, nas 8 fazendas", aponta.

Essa ampliação, explica Porro, vai se dar com a expansão de outras culturas, como a banana. "Acho que vou produzir mais banana que melão. Hoje, são 200 hectares de banana, mas o potencial aqui é de milhares de hectares, é ilimitado. Banana é a commodity número 1", afirma. Mas, por enquanto, o melão, que é a principal fruta de exportação do Brasil, e vai sendo o foco da empresa.

COMPETITIVIDADE
Cuidados minuciosos na garantia da qualidade

A quantidade de atividades ligadas à produção do melão impressiona. Da preparação da terra para o plantio e à comercialização, os milhares de funcionários da empresa atuam de forma a garantir a competitividade da marca e sua certificação internacional. Para vender lá fora, é preciso seguir parâmetros rígidos. E não é só lá: mesmo o consumidor brasileiro, que abocanha 30% da produção da Agrícola Famosa, já está mais exigente. Quer comer o mesmo melão que se encontra nas gôndolas dos supermercados europeus.

"É um trabalho sofisticado, uma cultura de precisão, não dá para errar", avisa o gerente comercial Carlos Porro. Por isso a quantidade de ofícios, a começar pela garantia de que a safra será colhida. Para evitar o uso de agrotóxicos, vespas, aranhas e ácaros são criados na fazenda. "Para cada doença, um inimigo natural", explica.

Extensa variedade

Garantido o afastamento das pragas, pensa-se em que tipo de melão produzir. Cerca de 600 variedades de melões e melancias são testadas na fazenda a cada safra. Uma das pessoas que se ocupa desse trabalho é o cearense de Icapuí, Ulisses Augusto, 27 anos. Seu pai era motorista de ônibus na fazenda e Ulisses sempre o acompanhava, e daí surgiu o interesse pela área. "Fiz vestibular em agronomia, passei, e no segundo ano estagiei aqui. Em 2006, concluí e fiquei", conta. Hoje, Ulisses trabalha na Pesquisa e Desenvolvimento do melão. "A ideia é diminuir os problemas de campo e da chegada da fruta no exterior, reduzindo as perdas, o custo de produção e otimizando os processos", explica.

As sementes utilizadas na fazenda vêm dos Estados Unidos, Chile e Tailândia. Chegando na propriedade, elas são postas na terra por meio de um moderno maquinário, mas que não dispensa o trabalho da paraibana Maria de Fátima, 32, que confere as bandejas de mudas. Em cada espaço da bandeja, precisa haver uma semente. "Saí de Aricó, na Paraíba, por falta de emprego. Já faz quatro safras que estou aqui, e acho que foi uma boa escolha ter vindo".

Andando pela fazenda, encontra-se a mossoroense Cléa de Oliveira, 39, examinando as mudas na estufa. "Eu tiro a casca da semente da planta que sai", explica o minucioso ofício. Com cinco anos na empresa, ela afirma que "mexe com tudo" por lá. Outras funções bem curiosas também são encontradas. No campo, pessoas colocam bandejas embaixo dos melões já brotados, para evitar contato com o chão. A fazenda funciona como uma grande indústria, completamente setorizada e movimentando a economia do lugar.

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