segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Artigo: Icapuí e a energia que vem dos ventos...

 Escrito por Antônio Felipe de Freitas Oliveira, 
icapuiense, 20 anos, universitário 
(Bacharelado em Ciência e Tecnologia - UFERSA) 
e funcionário da IMPSA Wind.

                Icapuí, cidade cearense do extremo litoral leste, aproximadamente 200 km de Fortaleza fronteira com Rio Grande do Norte, possui o maior potencial eólico do estado e divide o posto de maior potencial eólico brasileiro com Touros/RN, com média de velocidade do vento acima de 8m/s que é a media cearense. Icapuí, ganha agora seus primeiros parques eólicos. 

                Durante a semana passada aconteceu os leilões de Energia A-3 (lê-se A menos três em referência ao tempo que a usina tem para entrar em operação) e de Energia de Reserva onde foram contratados 3962,6MW em novos empreendimentos que devem entrar em operação até dias 1º de março e de 1º de julho de 2014, respectivamente. Num total negociado de 37,14R$ bilhões. Os empreendimentos estão espalhados em diversos estados, sendo contratadas usinas movidas pelo vento, gás natural, biomassa (bagaço de cana, palha de arroz ou serragem de madeira), PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) e Hidroelétricas. A energia eólica foi a que teve maior contratação, 1929MW.

                Detalhe curioso desse último leilão foram os menores preços atingidos durante os dois dias de leilão que pertencem aos parques eólicos, que ficaram com preços menores que todos os empreendimentos, inclusive da expansão do projeto hidrelétrico Jirau, no qual os parques movidos pela energia dos ventos venderam sua energia a incríveis 96,49R$/MWh, tornando-se assim, a energia eólica brasileira a mais barata do mundo. Quebrando todos os paradigmas e preconceitos que diziam que a energia advinda dos ventos é cara... 

                A energia eólica é considerada e comprovada por todos cientistas e especialistas do Brasil e do mundo como a energia que menos agride ao meio ambiente. Como se pode ver na foto acima, não é necessário desmatar todo a área para instalar uma usina, apenas a área em que a turbina é instalada, de aproximadamente 36m², e também para as vias de acesso. Contrário as usinas hidroelétricas que inundam grandes áreas e de usinas solares que necessitam de dois hectares para produzir a mesma energia produzida por um aerogerador instalado em 36m². 

                Ao contrário do que muitos dizem, sem conhecimento, é possível construir usinas eólicas e empreendimentos em APP/APA (Área de Proteção Permanente/Área de Proteção Ambiental), desde que tais empreendimentos sejam de utilidade pública, e gerar energia elétrica é serviço de utilidade pública, afinal, todos usam energia elétrica. Só que tais empreendimentos devem atender diversos requisitos ambientais, como estudos de EIA (Estudo de Impacto Ambiental)/RIMA (Relatório de Impacto Ambiental), compensações ambientais e sociais, etc. Requisitos esses que são necessários para se conseguir as devidas licenças de construção, instalação e operação. Sendo as empresas de energia eólica instalados no estado do Ceará, as que mais pagam impostos nas cidades onde se encontram os empreendimentos.

                Outro questionamento é com relação ao impacto visual causado pelas grandes turbinas, que segundo algumas pessoas, diminuem o atrativo turístico da região. Diferentemente do resto do estado do Ceará, os projetos eólicos em Icapuí estão situados em locais que não são exploradas para o turismo, locais estes que sequer há circulação de pessoas, como a Fazenda Retiro Grande (Belém, distância de 10km e 20km da via principal), Ibicuitaba (distância de 3km da via principal), Morro Pintado (distância de 5km da via principal), Melancias de Baixo e de Cima (distância de 1km da via principal), Manibú (distância de 1,5km da via principal), Bacalango (distância de 6km das casas), são alguns dos exemplos dos locais que estão em estudo para instalação de empreendimentos eólicos. Ressaltando também que as usinas eólicas possuem em sua maioria, os chamados ruídos brancos, sons que são inaudíveis para nós seres humanos e que os sons que podem ser ouvidos só são possíveis a pequenas distâncias das máquinas, em torno de 150m, com nível de ruído não ultrapassando os 40db pela manhã e 50db à noite, nível este que é inferior ao som de uma motocicleta, automóvel, televisão, etc.

Local de instalação de uma usina em Morro Pintado, distante 5km da via principal

 Local de instalação de uma usina no Bacalango, distante 6km da via principal

                Com relação à fauna, o único problema causado pelos parques eólicos é no que diz respeito às aves. Turbinas eólicas são equipamentos altos e podem matar pássaros que circulem perto. No entanto, parques eólicos não são grandes os vilões que perseguem os pássaros.  Na Alemanha, 32 pássaros foram mortos por turbinas eólicas entre os anos de 1989 e 1990. Em comparação, somente em 1989 morreram 287 aves devido a impactos com torres de antenas (DEWI, 1996). Nos Estados Unidos 130 milhões de aves morrem em colisões com linhas de transmissão e torres de telecomunicação, mais dois milhões morrem em poços de petróleo. Enquanto isso, 150 mil pássaros e cerca de 10 mil morcegos morrem devido a turbinas eólicas, anualmente. Um estudo feito pela IBERDROLA e institutos de meio ambiente dos EUA conseguiram reduzir em 70% a mortalidade de pássaros simplesmente desligando as turbinas em regimes de ventos fracos. As usinas a serem instaladas em Icapuí serão as usinas Pau Brasil (15MW) e São Paulo (17,5MW), todas duas situadas no terreno da Fazenda Agrícola Famosa, onde será investido um total de 52R$ milhões e 62R$ milhões para UEE Pau Brasil e UEE São Paulo, respectivamente, totalizando 114R$ milhões.

Usina Eólica de Osório, Rio Grande do Sul, Brasil.

                Pra finalizar, os empregos. Os empregos na indústria eólica são empregos tecnológicos, das áreas centradas em mecânica, elétrica e construção civil. No entanto, um empreendimento eólico também necessita de advogados, administradores, contadores, etc. Os empregos são aquecidos durante as obras, que serão de hoje até 1º de julho de 2014. Depois dessa época são ofertados menos empregos, devido ás necessidade de mão-de-obra para os serviços necessários pós-construção, que são de operação e manutenção. O segmento eólico paga salários muito acima da média nacional e local, como os empregos da indústria petrolífera, por exemplo. 

                O salário básico dos técnicos em mecânica, eletrotécnicos e técnicos em construção civil varia de R$ 2.000 até R$6.000 dependendo do cargo exercido, enquanto muitas empresas prestadoras de serviços à PETROBRAS pagam algo em torno de 1300R$ até 3000R$. Enquanto no resto do mundo se cria um emprego para cada duas turbinas instaladas, ou 5MW, no Brasil se cria cinco empregos para cada turbina instalada. Isso se deve a falta de profissionais qualificados para o setor, que vê nos salários altos e regalias tais atrativos para os profissionais qualificados migrarem para o setor.

                Quem tiver dúvidas, quiser expressar opinião a ser levada em consideração nas construções dos próximos empreendimentos, oportunidades de emprego ou qualquer outro assunto relacionado ao tema, por favor, entre em contato comigo. Meu contato é felipeikpui@hotmail.com

Que venham os Bons Ventos...

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4 comentários:

Felipe Freitas disse...

Gostaria de avisá-los que uma das fotos do texto não foi postada, a foto que fica em cima do texto "Usina Eólica de Osório, Rio Grande do Sul, Brasil." O link da foto é http://images.orkut.com/orkut/photos/PQAAAPP5qBFE5xtqsI-0CP0mx8WRzX9zxEfDxP7GTJm8KTsPTmQx450fI-FnEB8dPnPVSN_iAxdwJHKdbSIy4ojXXF4Am1T1UDE48x5dEE8Kq_X_WzejQolVIzPD.jpg
Também envie a foto para o email do site. Obrigado.

Anônimo disse...

Gostaria de saber se fosse posível qual será a distancia das turbinas que irão ficar localizadas entre a Serra do Mar e Ibicuitaba.

Anderson disse...

Olá Felipe gostei das suas pelavras e de algumas colocações suas que foram citadas no seu artigo, mas gostaria de enfatizar que o município de Icapuí é um dos casos onde não foi realizado a elaboração de um PLano Diretor, ferramenta esta, que tem como uma de suas utilidades a ordenação de uso e ocupação do solo. Cito que este Município já deveria ter apresentado este Plano há tempos, pois, como o município, mesmo não tendo 20 mil habitantes, que é um dos critérios de obrigatoriedade da implantação, o mesmo está localizado numa área de relevante interesse ecológico e também apresenta áreas de litoral o que obriga a elaboração e impantação do mesmo, isso já caracterizado como crime da administração pública para seus gestores, quando do não cumprimento desta LEI. Não devemos querer fechar os olhos para a instalação de empreedimentos de altos custos em qualquer área, pois temos locais que podem ser utilizadas para este fim! Conheço também o grande potencial eólico do município mas não adianta tornar todas as áreas como sendo propícias para instalação desses parque eólicos como, áreas de APP's e outras áreas, pois temos muito potencial que pode ser explorado que não seja a forma de grandes empreendimentos, mas o turismo ecológico, o artesanato o desenvolvimento de comunidades tradicionais etc, sendo todas estas menos impactantes e levando o desenvolvimento de forma comum a todos e não só a pequenos empresários. O município também apresenta características ambientais ímpares que não se vê em qualquer lugar do Brasil ou do mundo, e isso é o que atrai os nossos turistas e outras pessoas que poderão vir nos visitar, turista já está cansado de cidades, de noites conturbadas de coisas que são comuns e nós não devemos se tornar mais um e sim ser o diferencial. Qual a graça de se chegar na duna de Ponta Grossa e se deparar com uma turbina eólica????
Gostaria de salientar e chamar a atenção da população de Icapuí para que possamos lutar para o desenvolvimento da cidade, mas que esse desenvolvimento seja de maneira ordenada e não coloque em risco as nossas riquezas naturais e outros aspectos de grande relevância como cultura, o social etc. Finalizo aqui minha palavras como um simles cidadão que busca as melhorias do município, mas que estas sejam realmente melhorias e não um caos!

Felipe Freitas disse...

Com certeza Anderson, esse é o pensamento. Também não sou a favor do desenvolvimento a todo custo. Justamente por não valer a pena TODO TIPO de desenvolvimento, que por vezes deixa de ser sustentável. Uma das atividades que exerço é identificar áreas com potencial eólico e que sejam viáveis economicamente e tecnicamente. Três teclas que sempre bato são: longe das praias, distância de no mínimo 400m das casas e planejamento urbano. Como você enfatizou muito bem na sua colocação ainda não temos Plano Diretor, o que é um retrocesso para nossa cidade. Na identificação de áreas não só para as eólicas, mas, como para todo e qualquer empreendimento temos de levar em consideração o crescimento futuro da cidade, pois, esse futuro está próximo e queremos viver tempos vindouros. Não se preocupe, irei batalhar de sol a sol, de vento a vento para que em Icapuí a energia eólica seja exemplo de sustentabilidade, que não seja mais um caso polêmico ambiental no Estado do Ceará, preço esse que pagamos por sermos os pioneiros no setor e acabamos cometendo alguns erros, e que nem todas as áreas com potencial em Icapuí serão utilizadas justamente por conta do planejamento urbano e pelo aspecto ambientalmente sustentável, afinal, não iremos instalar aerogeradores nas praias. Erros estes que são relevantes para que não erremos mais, e sim que nos tornemos melhores, que nos aperfeiçoemos e possamos dizer “Somos uma cidade sustentável”. OBS: gostei muito do seu comentário, pois, não é mais um daqueles comentários secos e vazios do tipo “tão querendo acabar com tudo!!!, só pensam em dinheiro!!!, vão para outro local que aqui vocês não fazem nada!!! Bla bla bla...”, estes tipos de comentários de nada ajudam, devemos sempre dialogar a fim chegar num consenso para o melhor, para o bem de Icapuí!