Por Freitas Filho
Cientista Político e Historiador
Cientista Político e Historiador
Artigo publicado originalmente no Museu Virtual "Memória Viva dos Povos do Mar de Icapuí"
da Fundação Brasil Cidadão.
A Povoação
Eram quase dez horas da manhã quando um
jornalista curioso perguntou a um dos caboclos encostado a um dos
quatro pilares que sustentavam o baixo alpendre da singela quitanda de
Dona Julita:
– E quando adoece uma pessoa aqui, o que é que vocês fazem?
– Só tem um jeito Doutor: é esperar que morra pra gente enterrar. Nós não vamos embora também porque não temos pra onde. Mas, senão, há muito tempo que a gente estava longe daqui. Só vem gente por aqui em tempo de eleição. Quando nós vimos os senhores chegando, até ficamos pensando que era negócio de eleição...
Um circundante toma a palavra e como tiro certeiro disparou:
– Isso lá é lugar! (e dando uma boa tragada no brejeiro ultimado, concluiu) Dizem até que foi aqui que o cão perdeu as esporas!
Fazia um dia de céu límpido naqueles 26 de Agosto de 1966. Ao longe, as impressões furtivas dos horizontes, abarreirados por nuvens ralas e volumosas e o sol ardente coava sua luz na densidão de palmeiras sentinelas, agitadas ao sopro de impetuosas vagas lançadas do mar. Ibicuitaba era então um pequena Vila com ares de cidade, de duas ruas descalçadas, gravitando em torno de dois monumentais pilares arquitetônicos do final do século XIX, a Matriz de Nossa Senhora do Rosário e o centenário Casarão do Coronel Holanda, símbolos de períodos faustos, de empreendedorismo e poder, que o tempo, voraz, abalou. Dispostas sobre cândidas dunas figuravam não mais que cem casas de paredes geminadas a taipa de bofete (a maior parte abandonadas), algumas com inúmeras portas e janelas frontais, platibandas e cimalhas, que diziam serem sinais de cabedais fartos. Competentes quintais se avolumavam em correnteza, desfilando grandes cercas que abarcavam variedades tantas de frutíferas ateiras, imburanas e cuitezeiras, entremeadas por canteiros e girais de criação. De clima tropical atlântico, com fortes rajadas de vento, raso lençol freático sob alvíssimas dunas, extensa faixa de coqueirais, onde a vista alcança, com uma costa rasa de praias belíssimas, com maré calma, algumas culturas de subsistência nos sítios a sua volta, completavam esse quadro de paisagem natural, dando aos habitantes os meios de sobrevivência no peixe, no coco e na farinha, base da alimentação local. A vida pacata e ordeira da população que conservava seus costumes e tradições, o parentesco ligado de toda uma comunidade que guardava no isolamento um alto valor cultural.
IBI (terra), CUI (areia), TABA (aldeia), do Tupi-Guarani: Ee-bee-kooee-tah-bah (traduzindo-se por “Aldeia do Areal”) começou sua vida a cerca de 200 anos sendo chamada de Areias, uma denominação profundamente arraigada aos aspectos geográficos da área em que se situava. Dela, nos fala o escritor inglês Henry Koster, que a visitou em dezembro de 1810. Embora não faça menção específica a nenhuma das famílias que encontrou fixada na erma povoação litorânea, o viajante britânico revela-nos bem o perfil e organização social dos que a protagonizaram: uma gente altamente acolhedora, resistente às amarguras e aflições que a terra seca e pouco dadivosa, vez por outra os ofertava; um núcleo povoador que nasce incorporando os traços da escravidão como estrutura vigente de prestígio e poder e que desde cedo já deflagrava extremas conseqüências, transfiguradas em trágicas revoltas dos submissos contra seus senhores. Em 1933 tornou-se o sexto Distrito do município de Aracati e ao lado disso uma das mais promissoras Vilas do extremo litoral leste cearense até meados da década de cinqüenta do século XX, comportando muitas das importantes instituições que posteriormente tornar-se-iam base fundamental para a instalação de um futuro centro administrativo na chamada Região de Praias.
Com a fundação da Sociedade Comercial Companhia Força e Luz de Ibicuitaba em 21 de Outubro de 1951, a pitoresca Povoação alcançou seu mais significativo período de desenvolvimento com muitos melhoramentos em sua infra-estrutura urbana e na qualidade de vida de sua população. Dando, por assim dizer, um passo considerável para a consolidação de outros empreendimentos que motivaram a dinamização da vida do lugar e dos negócios locais. Além de energia, movida por um gerador a diesel e água encanada que chegava às casas como num toque de mágica (isso para uma população acostumada ao brilho ofuscante das lamparinas e arapiracas; e a subir e descer freqüentes ladeiras portando a peleja de latas d água na cabeça) dispunha-se ainda de uma Agência de Correios, um Cinema, uma Rádio Comunitária e uma Sub-Delegacia Policial, além dos planos concretos para a construção de “um campo vasto e limpo que possibilitasse a aterragem de aviões”. Uma realidade que se tornou verdadeiro exemplo de cooperativismo sustentável em áreas tão descentralizadas do interior do Nordeste brasileiro onde o poder público, movido por interesses puramente eleitoreiros, não fazia questão de chegar. Todo esse aparato legou a antiga e senhorial Vila o apanágio de centro mais desenvolvido por aquelas bandas do Ceará. Não obstante, a grande maioria de sua população fosse analfabeta e vivesse a margem das luzes da educação, quiçá, seu maior desafio. Mas, a geografia haveria de ditar vorazmente as normas do destino.
– E quando adoece uma pessoa aqui, o que é que vocês fazem?
– Só tem um jeito Doutor: é esperar que morra pra gente enterrar. Nós não vamos embora também porque não temos pra onde. Mas, senão, há muito tempo que a gente estava longe daqui. Só vem gente por aqui em tempo de eleição. Quando nós vimos os senhores chegando, até ficamos pensando que era negócio de eleição...
Um circundante toma a palavra e como tiro certeiro disparou:
– Isso lá é lugar! (e dando uma boa tragada no brejeiro ultimado, concluiu) Dizem até que foi aqui que o cão perdeu as esporas!
Fazia um dia de céu límpido naqueles 26 de Agosto de 1966. Ao longe, as impressões furtivas dos horizontes, abarreirados por nuvens ralas e volumosas e o sol ardente coava sua luz na densidão de palmeiras sentinelas, agitadas ao sopro de impetuosas vagas lançadas do mar. Ibicuitaba era então um pequena Vila com ares de cidade, de duas ruas descalçadas, gravitando em torno de dois monumentais pilares arquitetônicos do final do século XIX, a Matriz de Nossa Senhora do Rosário e o centenário Casarão do Coronel Holanda, símbolos de períodos faustos, de empreendedorismo e poder, que o tempo, voraz, abalou. Dispostas sobre cândidas dunas figuravam não mais que cem casas de paredes geminadas a taipa de bofete (a maior parte abandonadas), algumas com inúmeras portas e janelas frontais, platibandas e cimalhas, que diziam serem sinais de cabedais fartos. Competentes quintais se avolumavam em correnteza, desfilando grandes cercas que abarcavam variedades tantas de frutíferas ateiras, imburanas e cuitezeiras, entremeadas por canteiros e girais de criação. De clima tropical atlântico, com fortes rajadas de vento, raso lençol freático sob alvíssimas dunas, extensa faixa de coqueirais, onde a vista alcança, com uma costa rasa de praias belíssimas, com maré calma, algumas culturas de subsistência nos sítios a sua volta, completavam esse quadro de paisagem natural, dando aos habitantes os meios de sobrevivência no peixe, no coco e na farinha, base da alimentação local. A vida pacata e ordeira da população que conservava seus costumes e tradições, o parentesco ligado de toda uma comunidade que guardava no isolamento um alto valor cultural.
IBI (terra), CUI (areia), TABA (aldeia), do Tupi-Guarani: Ee-bee-kooee-tah-bah (traduzindo-se por “Aldeia do Areal”) começou sua vida a cerca de 200 anos sendo chamada de Areias, uma denominação profundamente arraigada aos aspectos geográficos da área em que se situava. Dela, nos fala o escritor inglês Henry Koster, que a visitou em dezembro de 1810. Embora não faça menção específica a nenhuma das famílias que encontrou fixada na erma povoação litorânea, o viajante britânico revela-nos bem o perfil e organização social dos que a protagonizaram: uma gente altamente acolhedora, resistente às amarguras e aflições que a terra seca e pouco dadivosa, vez por outra os ofertava; um núcleo povoador que nasce incorporando os traços da escravidão como estrutura vigente de prestígio e poder e que desde cedo já deflagrava extremas conseqüências, transfiguradas em trágicas revoltas dos submissos contra seus senhores. Em 1933 tornou-se o sexto Distrito do município de Aracati e ao lado disso uma das mais promissoras Vilas do extremo litoral leste cearense até meados da década de cinqüenta do século XX, comportando muitas das importantes instituições que posteriormente tornar-se-iam base fundamental para a instalação de um futuro centro administrativo na chamada Região de Praias.
Com a fundação da Sociedade Comercial Companhia Força e Luz de Ibicuitaba em 21 de Outubro de 1951, a pitoresca Povoação alcançou seu mais significativo período de desenvolvimento com muitos melhoramentos em sua infra-estrutura urbana e na qualidade de vida de sua população. Dando, por assim dizer, um passo considerável para a consolidação de outros empreendimentos que motivaram a dinamização da vida do lugar e dos negócios locais. Além de energia, movida por um gerador a diesel e água encanada que chegava às casas como num toque de mágica (isso para uma população acostumada ao brilho ofuscante das lamparinas e arapiracas; e a subir e descer freqüentes ladeiras portando a peleja de latas d água na cabeça) dispunha-se ainda de uma Agência de Correios, um Cinema, uma Rádio Comunitária e uma Sub-Delegacia Policial, além dos planos concretos para a construção de “um campo vasto e limpo que possibilitasse a aterragem de aviões”. Uma realidade que se tornou verdadeiro exemplo de cooperativismo sustentável em áreas tão descentralizadas do interior do Nordeste brasileiro onde o poder público, movido por interesses puramente eleitoreiros, não fazia questão de chegar. Todo esse aparato legou a antiga e senhorial Vila o apanágio de centro mais desenvolvido por aquelas bandas do Ceará. Não obstante, a grande maioria de sua população fosse analfabeta e vivesse a margem das luzes da educação, quiçá, seu maior desafio. Mas, a geografia haveria de ditar vorazmente as normas do destino.
Destino Marcado
“É de lamentar que esta próspera Povoação esteja
condenada a ser futuramente soterrada pelas dunas que já começam a
entrar por uma das pontas da rua principal. Reza a tradição, que um
religioso, que em tempos remotos por lá passara, profetizara que, em
eras futuras a Igreja Matriz (prédio bastante alto, o mais elevado do
lugar) havia de ser coberta pelas areias, e por cima dela passariam as
cavalgaduras. Tinha outra, como absurda, esta profecia transformava-se
rápida e a olhos vistos em dura realidade” – registrou um dos líderes
políticos da época no famoso livro Terra Aracatiense.
Decreto divino ou não, o fato é que a partir da
segunda metade da década de cinqüenta um fenômeno natural de proporções
inusitadas, acarretado pelo avanço incessante das gigantescas dunas
que a cercavam por todos os lados, pôs à prova a intrepidez e
resistência de seus habitantes, que se depararia com a maior crise de
sua história, atingindo seu ápice nos inesquecíveis anos sessenta. O
irredutível e tenebroso embalo dos grandes outeiros, conduzidos por
fortes rajadas eólicas tiveram uma ação devastadora, soterrando árvores,
obstruindo rodagens e outras vias públicas, bem como destruindo
moradias, que desabavam sob o impacto de verdadeiras avalanches.
Homens, mulheres e crianças, assistiam impotentes ao sepultamento da
Vila onde moravam. Mais da metade da população teve de deixar suas
residências buscando guarida em outras localidades e até fora do
município. Os que ficaram, por circunstâncias adversas de suas
vontades, travavam uma luta diária contra a natureza, na tentativa de
proteger suas moradias contra o avanço dos ventos uivantes. Para se ter
uma idéia das dimensões atingidas pela areia basta dizer que dos 3,18
metros da Casa Paroquial era possível apenas avistar-lhes o teto. –“As
criações existentes na Vila conseguiam caminhar com felicidade sobre
seu telhado... Ali tinha uma biblioteca deixada pelo Padre Marcondes,
com 125 livros, todos ilustrados, bonitos, que areia também soterrou” –
diz Dona Maria do Carmo Santos (‘Maria Velha’), 97 anos e memória viva
do drama que também a afugentou.
Três anos antes a comitiva de uma Visita
Pastoral à sede do Distrito já registrava o quadro desolador figurado
pelo desastre natural e pelo abandono das instâncias públicas, que se
mostraram totalmente indiferentes ao sacrifico que fora submetida
aquela gente: “A antiga Sede da Paróquia recebeu a Visita dos
Missionários à tarde, aos dias 22 (1963). O Sr. José de Araújo Holanda
nos conduziu na sua rural até a Capela da antiga Areias. Não houve
recepção. A Vila apresentava um aspecto de regresso em grau superagudo.
Isto devido a falta de acesso, bem como pelo deslocamento do morro de
areia que avança impiedosamente sobre o povoado, já tendo soterrado
completamente o Salão e a Casa Paroquial que ameaça sumir a qualquer
instante. Agora, a vértice do morro encontra-se em frente à Capela,
avançando em lateral, na direção à porta que dá entrada para o altar
(...) Diante da situação atual julgamo-la providencial! O movimento de
confissões é nulo, pois o povo não se apresenta. Basta dizer que não
conseguimos realizar uma só celebração. O pivô do movimento religioso
era o Sr. Ismael Francisco Rodrigues que se transferiu para Mossoró”.
(Tombo N 01 – Secretaria Paroquial de Icapuí – CE). Dos seus 2.327
habitantes apenas meia dúzia de pessoas estava vivendo em seu perímetro
urbano em meados da década de sessenta. Com o apelo incessante do
Jornalista e Agente do IBGE, Antônio Figueiredo Monteiro, o fato se
tornou notícia nos principais veículos de comunicação do Ceará, gozando
de forte repercussão entre a opinião pública do Estado. Jornais como “O Unitário”,” O Povo” e “Correio do Ceará”, relataram, em páginas inteiras, durante semanas seguidas, o drama da população.
A Vila Perdida
A antiga estrada de rodagem que ligava
Ibicuitaba a Aracati encontrava-se obstruída por imensos morros de
areia, dificultando a comunicação. A única via terrestre de contato com
a localidade era pela praia. Os veículos que se aventuravam tinham que
circundar cerca de 20 quilômetros pela velha costa, num percurso nem
sempre possível. Ai se estabelecia uma disputa curiosa entre
passageiros e natureza: enquanto a maré baixava o veículo avançava
tentando vencer completamente a passagem difícil. “Assim aconteceu aos
repórteres que por mais de dez vezes, tiveram de esperar que as águas
deixassem a praia desimpedida. Para se ter uma idéia das dificuldades
enfrentadas para atingir Ibicuitaba, bastará dizer que, apesar de seus
vinte anos de atuação no município de Aracati, o agente local do IBGE, o
nosso excelente confrade Antônio Figueiredo Monteiro, confessou
desconhecer os caminhos finais que levam até a Vila perdida”, registrou
o Unitário em agosto de 1966.
Atônitos, os moradores diziam não saber como o
fenômeno aconteceu, lembrando-se apenas que, certo dia, o chão da Vila
amanheceu tomado pela areia. Desde então o problema se estabeleceu em
definitivo. “No começo, os homens se reuniam, tiravam tudo. Depois, com
a fuga das famílias e a conseqüente redução de braços, o trabalho
ficou difícil.” As mais de vinte casas já sepultadas, com apenas um
metro de construção à mostra, davam bem uma idéia do que lhes
aconteceria, dentro em breve. Calculava-se em até quatro metros a
profundidade da areia acumulada e homens e mulheres estavam certos que
dias, menos dias, teriam de deixar suas residências, assombrados com o
fantasma da destruição. Das várias mercearias sortidas restava apenas a
venda de Dona Julita, onde os caboclos entretiam-se de quando em
quando, no deleite das prosas costumeiras ao sabor de uns tragos de
aguardente. – “A igreja que o senhor está vendo, já teve areia até o
altar. A casa paroquial caiu a metade. Atualmente, dos sete degraus da
Capela, apenas dois estão do lado de fora”, relatou um dos presentes por
ocasião da presença dos repórteres.
No domingo, 30 de agosto, o “Correio do Ceará”
havia notificado a presença do Governador acompanhado de várias
autoridades, “determinando ali um trabalho de terra planagem e o
restabelecimento do serviço de água local. Visitou, na mesma localidade,
uma Escola que funcionava numa casa coberta de palha, tão antigo nos
métodos que a professora ainda usava palmatória. Essa escolinha nunca
recebeu a visita de nenhuma autoridade e Ibicuitaba não figurava sequer
no mapa”. O vento não parava nunca de jogar areia. Acreditava-se que o
trabalho de desobstrução não poderia solucionar o problema em
definitivo. A população acreditava que, uma semana depois da operação, a
Vila estaria em condições idênticas. A experiência adquirida não
autorizava crenças otimistas.
Na desoladora tarde 07 de Setembro de 1966 a
população assistiu a chegada de uma maquia esteira destinada à retirada
excessiva da areia. Um mês intenso de trabalho afinco rendeu parte da
remoção das dunas, lançadas mata adentro. O veículo, porém, rendeu-se a
descura dos necessitados reparos técnicos, o que o impossibilitou de
continuar as atividades e stacionado sobre a areia avolumava, também
fora soterrado.
A ausência de medidas douradoras e eficazes fez
com que, a até a primeira metade da década de setenta, Ibicuitaba
apresentasse os cruéis traços de uma Vila decadente e sem perspectivas
no futuro, tumescida dos escombros que a devastação deixara. Abaixo,
transcrevemos as últimas impressões deixadas pelo saudoso jornalista
Antônio Figueiredo Monteiro publicada no “O Povo”, no ano 1972:
Ibicuitaba Abandonada
“Após quase um decênio visitei ontem a Vila
de Ibicuitaba, pertencente ao município de Aracati e que foi
antigamente Sede da antiga e florescente Paróquia de Nossa Senhora do
Rosário de Areias, nome pelo qual era conhecida antigamente. Colocada
sobre alvas dunas e cercada de imenso coqueiral, a histórica e
pitoresca Vila de Ibicuitaba é bastante famosa na história da terra
aracatiense. Ai nasceram ilustres sacerdotes e ali se encontra
sepultado na Capela da vizinha povoação de Melancias, o Mons. Clicério
da Costa Lobo (...) Da antiga e senhorial Vila com ricos comerciantes e
abastados fazendeiros, possuidores de dezenas de escravos, só resta o
velho Casarão e a Capela bastante antiga, porém, em estado de total
abandono. A não ser o secular coqueiral que a rodeia e o mar verde e
calmo que serve de fundo à bela e encantadora paisagem e o resto se
constitui afora duas ou três residências num Casarão velho e
abandonado. Depois da avalanche de areia que soterrou a Vila por quase
um decênio a população procurou fugir, se abrigando nos sítios que a
cercam por todos os lados. A areia, porém, continua a sua ronda
sinistra. Da calçada da residência de D. Iolanda Campos, líder
comunitária daquela localidade, pude contemplar com imensa tristeza o
abandono injustificável e criminoso em que se encontra aquela Vila,
outrora tão próspera e florescente, com água encanada, luz, e agência
dos Correios. Hoje, nada mais existe. Não há meio algum de comunicação,
vivendo a população sem assistência médica, sem estrada e sem qualquer
coisa outra que demonstre algo de progresso. O desemprego e a fome,
não obstante a grande quantidade de sítios existentes na localidade,
ronda os lares de Ibicuitaba (...) Depois de tudo ficarão algumas casas
desabitadas para que não desapareça de uma vez a bonita e histórica
Vila. Da forma que as coisas vão marchando, futuramente, talvez, lá
somente exista uma placa assinalando a existência da Vila com os
seguintes dizeres: Aqui foi Ibicuitaba.”
As mudanças e as Novas Profecias
Outras iniciativas foram levadas a cabo, na
tentativa de fazer jus à resistência dos que haviam ficado. Medidas
emergenciais, embora não mui consistentes, voltaram-se em prol do
resgate da povoação, ironicamente sacrificada pelas mesmas dunas que um
dia lhe deram o nome. Os anos vindouros foram o regalo das famílias
que haviam sucumbido naquele flagício, graças ao lento e natural
retrocesso da areia que muito timidamente favoreceu ao regresso de uma
rarefeita parte da população, porque nada mais lhe restava, a não ser a
coragem e disposição para um novo recomeço. Somente no início da
década de 80, com o advento da energia elétrica e da rodovia CE-261
possibilitando intercâmbio com o restante do Estado, a Vila voltou a
comportar significativo número de habitantes, tendo em vista agora os
benefícios que teriam com fácil acesso a uma rede viária que os
colocasse em contato direto com as cidades vizinhas.
Em 15 de Janeiro de 1985, como conseqüência dos movimentos pela emancipação política do Distrito de Icapuí, Ibicuitaba passa a ser seu segundo Distrito alcançando melhores projeções no caráter de seu desenvolvimento urbano e de benefícios que antes eram artigos de luxo, como saúde e educação. Dos muitos anseios que esta imortal vilazinha litorânea teria mesmo de guardar tempo afora, um deles transpõe-se nas palavras do Exmo. Bispo D. Raimundo de Castro, que em uma de suas últimas visitas a Ibicuitaba, na conturbada década de sessenta, do patamar da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, declamou: “Essas dunas de areias, ainda serão dunas de cidades”!
Em 15 de Janeiro de 1985, como conseqüência dos movimentos pela emancipação política do Distrito de Icapuí, Ibicuitaba passa a ser seu segundo Distrito alcançando melhores projeções no caráter de seu desenvolvimento urbano e de benefícios que antes eram artigos de luxo, como saúde e educação. Dos muitos anseios que esta imortal vilazinha litorânea teria mesmo de guardar tempo afora, um deles transpõe-se nas palavras do Exmo. Bispo D. Raimundo de Castro, que em uma de suas últimas visitas a Ibicuitaba, na conturbada década de sessenta, do patamar da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, declamou: “Essas dunas de areias, ainda serão dunas de cidades”!
2 comentários:
Muito importante saber da gênese da nossa terra. Adorei o artigo.
PS: E a parte do "ovo"? Qual a origem? rsrsrs ^^
Legal a questão do OVO. Sabendo que isso é na verdade um grande enigma, e que até hoje parece pertubar a humanidade, acho mesmo que vai sair de Ibicuitaba essa tão epserada resposta, porque o povo inteligente é o pessoal daquela Aldeia.
Um grande abraço!
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