sábado, 28 de novembro de 2009

O Jornal O Povo divulga a segunda matéria do dia sobre a pesca

Disputa entre grupos de pescadores já dura 20 anos

Para o período do defeso da lagosta, que começa no próximo dia 1º de dezembro, o Ibama promete intensificar a fiscalização. Mas diz que o problema é que faltam políticas de pesca

O conflito entre as comunidades de Icapuí por causa da pesca ilegal da lagosta já dura 20 anos. Os moradores da cidade preferem não entrar em detalhes e têm medo de falar. Culpam o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e as autoridades do município de descaso com a briga histórica. O órgão garante que intensificou a fiscalização desde o último dia 16 de novembro e acusa a falta de políticas pesqueiras como principal culpada dos constantes conflitos entre as comunidades.

``Nosso barco está lá, lancha em alto mar. São cinco policiais, dois bombeiros e cinco fiscais. Será permanente``, garante Rolfran Ribeiro, chefe de Fiscalização do Ibama. Ele ainda anuncia que, para o período do defeso da lagosta, que vai de dezembro a maio, o monitoramento na área será intensificado. O problema, segundo Rolfran, é que a lancha precisa parar para troca de pessoal e para manutenção. ``Eles se aproveitam disso. Com a pesca predatória, conseguem pegar em dois ou três dias tudo que não pescaram em um mês``.

A saída encontrada pelo Ibama para dificultar a pesca irregular é tomar o barco do pescador ilegal. ``Muitos não pagavam a multa e ficava por isso mesmo. Agora somos mais rígidos, levamos o barco, eles estão sentindo no bolso``.

De acordo com Raimundo Bonfim Braga, o Kamundo, ex-superintendente do Ibama, havia uma parceria entre Ibama e as comunidades pesqueiras para uma fiscalização conjunta. ``Começou em 1995, mas ano passado, quando eu ainda estava lá, a gerência do Ibama em Brasília interrompeu a parceria. Preferiram contratar embarcações mais modernas e isso ficou mais caro, reduzindo a quantidade de barcos``.

Mas para Rolfran Ribeiro o que falta em Icapuí e no restante do litoral do Brasil são políticas pesqueiras. ``Precisa acabar com esse paternalismo. Não tem nenhum mocinho, não. Só tem artista. E muito político no meio``. O padre do município, Antônio Lopes, também pensa assim. ``São anos de muitas concessões. Pode, não pode. São sempre medidas paliativas, não existe uma política clara, por isso os conflitos não são resolvidos``.

SAIBA MAIS

> Os conflitos entre pescadores de Icapuí, disputa histórica no município, se agravaram neste ano.

> No dia 18 de setembro, um grupo de pescadores ocupou o prédio da Câmara Municipal, ateou fogo em contêineres de lixo e interditou ruas.

> O protesto era um pedido de proteção, já que eles estariam sofrendo agressões dos pescadores da praia da Redonda.

> Neste mês, novas brigas aconteceram. Dia 14, durante uma abordagem em alto mar por homens encapuzados, um pescador foi atingido por um tiro nas costas em Icapuí. O ataque teria sido feito por pescadores de Redonda.

> No mesmo dia, as estradas de acesso entre as duas localidades foram fechadas à altura da praia de Barrinha, por pescadores da sede.

> Um pescador de Redonda, que tentou furar o bloqueio, teve a moto queimada.

> Por causa do bloqueio, estudantes que moram na praia da Redonda ficam impedidos de ir à escola com tranquilidade, já que o acesso continuava obstruído.

> Somente dia 17, a estrada foi liberada. Cerca de 80 homens do Batalhão de Choque foram enviados de Fortaleza ao Município para realizar a operação.

> Há denúncias de que o prefeito estaria envolvido. ``O irmão dele é o pescador na cidade que mais tem barco do tipo que faz a pesca irregular``, afirma um morador.

> Os moradores da cidade reclamam que tudo no município está sendo prejudicado com os conflitos. ``A gente vive com medo. Nem os turistas tão vindo mais``.

> O defeso da lagosta vai até maio de 2010. As empresas que armazenam o crustáceo têm até o dia 3 dezembro pra declarar o estoque ao Ibama.

> É preciso protocolar a informação com o endereço do estabelecimento e o CPF do responsável. Para as indústrias, o prazo vai até o dia 7 de dezembro.

> A multa para quem é pego pescando irregularmente varia de R$ 700 a R$ 100 mil, dependendo da embarcação e da quantidade de pesca.

Fonte: http://www.noolhar.com/opovo/ceara/932406.html

Nenhum comentário: