quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Artigo: Mudanças climáticas e os efeitos do comportamento da natureza no município de Icapuí

Mudanças climáticas e os efeitos do comportamento da natureza no município de Icapuí

Escrito por José Marcelo da Silva
Tecg° em Saneamento e Recursos Hídricos
Esp. em Gestão de Recursos Hídricos

Há bem pouco tempo, aproximadamente 20 ou 25 anos, as feições do nosso litoral eram bem diferentes das que vemos hoje. A elevação dos mares, seja lá por qual motivo for (efeito estufa ou mudança de clima causado por movimentos naturais do globo), apresenta sinais bastante expressivos em nossa costa litorânea que possui 64 km de extensão de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo constatado o maior do estado do Ceará.

Para podermos compreender e visualizar este acontecimento é preciso pesquisar junto com os moradores mais antigos das comunidades afetadas e depois tentar visualizar algumas comunidades como a praia do Requenguela e praia da Barrinha como eram antes e como são agora. Já citando alguns exemplos, no Requenguela as casas se situavam entre a via e o mar, por intermédio da prefeitura, naquela época, foram retiradas todas as casas que se situassem nestes locais e remanejadas para o outro lado da via como estão até hoje, este espaço possuía uma faixa de terra que media em torno de 30 a 40m entre a via e o mar, hoje se observarmos iremos perceber uma redução gigantesca deste espaço ocasionado pela erosão das praias e conseqüente avanço das marés.




Já o caso da Barrinha, podemos observar a situação em que esta comunidade se encontra hoje (fotos 01, 02, 03 e 04), o que era um campo de futebol hoje serve de morro para disposição dos barcos de pesca, a quadra de esportes do colégio municipal da comunidade foi toda engolida pelo mar sendo que o próprio colégio está em risco e desmoronamento juntamente com uma pousada situada ao seu lado, o acesso entre a praia da Barrinha e Barreiras já não existe, o avançou das águas foi de tal forma que invadiu os terrenos particulares e derrubou várias casas instaladas a beira mar.
 

Esses são alguns exemplos que podemos rapidamente perceber simplesmente ao passar por estes lugares. Na praia de Barreira da Sereia, foi realizada uma obra de contenção do avanço do mar que já era um modelo adotado em algumas cidades do litoral brasileiro e que representa um modelo seguro, eficiente e que não fere bruscamente a paisagem original.

Para sabermos o quanto o mar avançou nestes últimos tempos é preciso realizar um estudo bem aprofundado a respeito do assunto, que pode ser baseado na coleta de dados e experimentos na busca de explicações para os fenômenos associados a estes dados. É preciso estudar os impactos no ecossistema manguezal considerando sua fauna e flora, estudar o desaparecimento ou surgimento de novas espécies em nossa região marinha, saber se ouve acréscimo ou decréscimo das algas situadas no banco dos Cajuais, estudar a variação da temperatura da água, em fim, se faz necessário um estudo detalhado para sabermos o quanto foi este avanço, se ele permanece na mesma proporção e identificar até quanto tempo essas praias poderão ser habitadas.

Por meio de uma conversa e analisando todo este contexto, um grupo de estudantes de nossa cidade chegou à seguinte conclusão: - Considerando que uma pesquisa venha confirmar este conjunto de idéias, hipóteses e ou teorias, a cidade de Icapuí vê o seu futuro projetado “um futuro muito distante” a se passar no Tabuleiro,
onde a população conhece como Serra (Serra de Icapuí, Serra de Cajuais, Serra de Mutamba etc.), haja vista as áreas onde vive boa parte da população de hoje estarem, neste período, inundadas. O Tabuleiro supracitado se encontra a uma altitude média de 30m em relação ao nível do mar, enquanto a região de baixo (Icapuí Sede, Salgadinho, Berimbal, Cajuais, Mutamba etc.) encontra-se a uma altitude média de 5m em relação ao nível do mar, com elevações bem inferiores.

Não podemos afirmar sem dados conclusivos que são fundamentados em pesquisas, porém os fatos e evidências apontam para um raciocínio coerente, a natureza dá sinais claros e lógicos sobre o que está acontecendo. 

Outra observação que podemos fazer, além dos impactos ambientais, são os impactos sociais e econômicos que isso está provocando e que podem ser minimizados ou até mesmo precavidos em longo prazo. Agora este é um processo que envolve outro contexto.

O diferencial para a natureza é que ela não tem pressa, ela trabalha sempre no mesmo ritmo a milhões de anos, e é desta forma que ela sempre transforma as coisas, de forma quase imperceptível e às vezes imperceptível aos olhos e ao conhecimento do homem.

Fortaleza, 13 de Outubro de 2010

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