domingo, 17 de outubro de 2010

Diário do Nordeste: Pescadoras lutam por apoio

MULHERES GUERREIRAS

Pescadoras lutam por apoio

Mulheres pescadoras do Ceará se reúnem em defesa dos direitos a políticas públicas e combatem o preconceito


Labirinto de Maria de Fátima e Bernadete da Silva: 15 horas de trabalho e apenas R$ 8,00 - Foto: Melquiades Jr



Acaraú. "Gente do Mar: No barco da vida, veleiro das ondas do meu bravo mar,/ Eu levo alegria! De noite e de dia eu posso ir pescar/ Cortando as águas como uma gaivota bem livre a voar:/ De pele rosada, de mãos calejadas, sou gente do mar!/ Eu sou a criança que brinca na areia castelo formando,/ Correndo e pulando, andando no sonho de sempre crescer!/ Eu sou marisqueira que leva nos ombros da labuta o peso,/ E deseja consigo que um dia na vida terá de vencer!".

O versos acima foram eternizados por Nazaré Flor, marisqueira de Itapipoca que faleceu em outubro de 2007 e tornou-se, desde em vida, referência das mulheres na luta pelos direitos de pescadoras. Sim, o Ceará tem pescadoras. E elas estão articuladas, reivindicando direitos que não devem ser só dos homens. "Nós precisamos ser reconhecidas como pescadoras artesanais, precisamos de políticas públicas de saúde, educação", afirma Martilene Rodrigues, da Articulação Estadual de Mulheres Pescadoras.


Mulheres de pelo menos 15 comunidades da zona costeira do Ceará têm se reunido nos últimos anos em prol do direito de serem reconhecidas pescadoras. "Eu sou pescadora, pois eu sou marisqueira. Mas também sou pescadora, se costuro a vela da jangada do meu marido, teço a malha do manzuá. Somos pescadoras da terra", explica Martilene. As discussões estão concentradas nos municípios de Acaraú, Cascavel, Fortim, Icapuí, Aracati, Beberibe e Camocim. As mulheres se reúnem em eventos estaduais e nacionais - em 2009 o Ceará mandou 80 representantes para a I Conferência Nacional de Mulheres Pescadoras, em Brasília.

Preconceito

As mulheres pescadoras lutam contra o preconceito. Primeiro o dos próprios maridos, depois o da sociedade e dos governos - não há políticas públicas governamentais específicas para esses grupos de mulheres. Outros problemas que combatem são a carcinicultura e a especulação imobiliária.

Para Martilene não falta o que tentar resolver. "O cultivo de camarão está atrapalhando a gente, porque eles invadem a nossa área, poluem tudo, por isso a maior parte das marisqueiras está parada". As fazendas de camarão têm se instalado nas áreas de apicum, a mesma utilizada para a pesca de mariscos. O mal maior é que os produtos químicos aplicados nos cativeiros da carcinicultura estão afetando o ecossistema, destruindo os mangues e matando os mariscos.

O trabalho da Articulação de Mulheres Pescadoras no Ceará é mapear as comunidades e estimular a mobilização e princípios de liderança em cada cidade. Os grupos têm apoio do Instituto Terramar, em Fortaleza, e do Conselho Pastoral dos Pescadores, órgão vinculado à Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e atua nos municípios de Aracati, Fortim, Trairi, Paracuru, Camocim e Cascavel. A entidade desenvolve em Fortaleza a Escola de Formação Dragão do Mar, com formação contínua de lideranças comunitárias de vários municípios litorâneos.

"Queremos capacitar 50 lideranças, pescadores e pescadoras, nos próximos três anos", afirma Ermezita Barbosa, do Conselho. (MJ)

PROTAGONISTA

Sobrevivência

Tereza Nunes, marisqueira

A maré baixa dos últimos meses, com fortes ventos, não atrapalha somente a pesca no mar. Quem é marisqueira tem suado mais para encontrar siris, sururus e ostras. Dona Tereza Nunes, de 56 anos, mora na cidade de Acaraú e sai ainda de madrugada para a praia ver o que a maré trouxe. Passa horas até catar cinco quilos de ostra, vendidas a não mais que R$ 2,00 o quilo. Quando não tem quem compre, cozinha em casa e faz o "leriado" com feijão e farinha.

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