segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Artigo: NOTAS HISTÓRICAS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA CERA DE CARNAÚBA

Por   José Romero Araújo Cardoso, 
geógrafo, professor adjunto do 
Departamento de Geografia da UERN

Os rios de carnaúba do nordeste brasileiro são encontrados em porções privilegiadas da área semiárida. Espalham-se pelos Estados do Rio Grande do Norte (trechos dos rios Piranhas-Açú e Apodi-Mossoró), do Ceará (trechos dos rios Acaraú e Jaguaribe, Piauí (trechos do rio Parnaíba) e Paraíba (trechos do rio do Peixe, em menor escala, afluente do rio Piranhas-Açú).

A inteligência do homem do sertão fez desenvolver tecnologias próprias que facilitaram o aproveitamento do principal produto obtido da carnaúba: a cera.

No final do século XIX, em cidades cearenses como Aracati e Icapuí, localizadas no litoral semiárido, popularizou-se a prensa inventada por cidadão de nome Damásio Barbosa, obtida a partir do aproveitamento de árvores nativas da região seca, como a aroeira.

A pressão exercida pela prensa sobre a  cera de carnaúba permitiu compactação necessária à qualidade do produto sertanejo no mercado externo.

Quem dispunha de carnaubais em suas terras era dono de verdadeira fortuna, os quais agregavam valores às combalidas finanças na isolada e atrasada região semiárida de outrora.

O boom econômico da cera de carnaúba nordestina veio com o advento da indústria fonográfica. Os discos primitivos eram confeccionados com o produto obtido a partir da exploração dessa espécie endêmica da flora existentes nas várzeas de alguns cursos d´água existentes no semiárido.

O advento do vinil foi responsável por sensível declínio na importância da cera de carnaúba. A sofisticação e a durabilidade dos discos fabricados a partir desse derivado do petróleo suscitou a substituição dos fabricados a partir da matéria-prima obtida com o pó existente na árvore que margeia alguns rios do sertão nordestino.

Quando do término da primeira grande guerra, assinalou-se dinâmica econômica surpreendente. A cera de carnaúba era exportada principalmente pelos portos de Fortaleza (CE) e Mossoró (RN) (Porto Franco e Porto de Santo Antônio), localizados próximos das áreas naturais nas quais vicejam os carnaubais, embora hoje esteja bastante diminuída a área de ocorrência dessa espécie vegetal.

Nos dias de hoje ainda há certa importância conferida à cera de carnaúba, mas não se compara à extraordinária demanda que no passado fez do produto um dos mais importantes na pauta de exportações de alguns estados nordestinos.

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