Por José Romero Araújo Cardoso,
geógrafo, professor adjunto do
Departamento de Geografia da UERN
Os rios de carnaúba do nordeste brasileiro são encontrados em porções privilegiadas da área semiárida. Espalham-se pelos Estados do Rio Grande do Norte (trechos dos rios Piranhas-Açú e Apodi-Mossoró), do Ceará (trechos dos rios Acaraú e Jaguaribe, Piauí (trechos do rio Parnaíba) e Paraíba (trechos do rio do Peixe, em menor escala, afluente do rio Piranhas-Açú).
A
inteligência do homem do sertão fez desenvolver tecnologias próprias
que facilitaram o aproveitamento do principal produto obtido da
carnaúba: a cera.
No
final do século XIX, em cidades cearenses como Aracati e Icapuí,
localizadas no litoral semiárido, popularizou-se a prensa inventada por
cidadão de nome Damásio Barbosa, obtida a partir do aproveitamento de
árvores nativas da região seca, como a aroeira.
A
pressão exercida pela prensa sobre a cera de carnaúba permitiu
compactação necessária à qualidade do produto sertanejo no mercado
externo.
Quem
dispunha de carnaubais em suas terras era dono de verdadeira fortuna,
os quais agregavam valores às combalidas finanças na isolada e atrasada
região semiárida de outrora.
O
boom econômico da cera de carnaúba nordestina veio com o advento da
indústria fonográfica. Os discos primitivos eram confeccionados com o
produto obtido a partir da exploração dessa espécie endêmica da flora
existentes nas várzeas de alguns cursos d´água existentes no semiárido.
O
advento do vinil foi responsável por sensível declínio na importância
da cera de carnaúba. A sofisticação e a durabilidade dos discos
fabricados a partir desse derivado do petróleo suscitou a substituição
dos fabricados a partir da matéria-prima obtida com o pó existente na
árvore que margeia alguns rios do sertão nordestino.
Quando
do término da primeira grande guerra, assinalou-se dinâmica econômica
surpreendente. A cera de carnaúba era exportada principalmente pelos
portos de Fortaleza (CE) e Mossoró (RN) (Porto Franco e Porto de Santo
Antônio), localizados próximos das áreas naturais nas quais vicejam os
carnaubais, embora hoje esteja bastante diminuída a área de ocorrência
dessa espécie vegetal.
Nos
dias de hoje ainda há certa importância conferida à cera de carnaúba,
mas não se compara à extraordinária demanda que no passado fez do
produto um dos mais importantes na pauta de exportações de alguns
estados nordestinos.
Extraído do Blog do Carlos Escóssia
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