sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Guia do Sabor: Projeto inovador: Temos algas comestíveis em Icapuí

Algas Marinhas
Não é difícil verificar a essência mesclada da culinária cearense. Uma breve análise de nosso receituário revela a combinação inextricável entre mar, sertão e serra - dos peixes, passando pelas frutas até a carne-de-sol, em um roteiro abarrotado de sabor

Nosso litoral, porém, oferece muito mais do que a santa trindade "peixe-lagosta-camarão". Há o polvo, ainda subaproveitado, vítima de preconceito e de preparos incorretos. A maior injustiça, porém, recai sobre outro produto marinho, ainda mais desconhecido e, por vezes, sequer imaginado como alimento.
Afinal, você sabia que alga é comestível?
Em experimentos mais ousados, até mesmo
panquecas foram feitas com algas
Projeto estuda a aplicação das algas
em alimentos como o pudim
Gelatinas e iogurtes também são alimentos
feitos com algas comestíveis

Não estamos falando apenas das algas utilizadas para fazer a folha "Nori" - produto que enrola o sushi. Existem várias outras espécies comestíveis, utilizadas em diversas culinárias do mundo. As algas vermelhas são largamente utilizadas na indústria alimentícia para a extração de ágar-ágar, um hidrocolóide com propriedade gelificante, utilizado na fabricação de gelatinas e mousses. 

No Ceará, uma experiência bastante interessante voltada às algas do gênero Gracilaria (conhecida popularmente como "macarrão fino") acontece na comunidade de Barrinha, município de Icapuí.
Batizada de "Cultivo Sustentável de Algas Marinhas", trata-se de uma tecnologia social idealizada pela Fundação Brasil Cidadão para Educação, Cultura, Tecnologia e Meio Ambiente, organização civil sem fins lucrativos. 

 Segundo a diretora executiva da Fundação, Leinad Carbogim, quando o projeto foi iniciado, ainda em 2002, já existia na comunidade uma experiência de cultivo de algas, que foi então ampliada e aliada à capacitação para o extrativismo sustentável - ou seja, fazer uma poda planejada dos bancos, a fim de obter mudas para o cultivo - e o beneficiamento das algas.

"Foi feita uma grande ação de conscientização da população sobre a importância dos bancos de algas marinhas, não apenas ambiental, mas econômica, já que muitas famílias do local sobrevivem da pesca", diz Carbogim.

Hoje, além da preservação dos bancos, o projeto promove a sustentabilidade por meio da utilização de tecnologias sustentáveis, como o reaproveitamento da água da chuva para a lavagem das algas e da energia eólica para a sua secagem. "Ganhamos o prêmio de Tecnologia Social 2010 da Fundação Banco do Brasil. Com isso, pudemos adequar a cozinha do projeto às exigências da Vigilância Sanitária", complementa a diretora.

Funcionamento

Depois de coletadas, as mudas de algas são amarradas em estruturas de cordas, que, por sua vez, são ancoradas no mar por dois meses. Após esse período, é feita a colheita. "Assim eles conseguem uma alga de qualidade maior, vendida empacotada, por até dez vezes mais o valor anterior. Mas as 12 famílias participantes preferem vender a alga beneficiada, pois assim a renda é maior", esclarece Carbogim. 

Entre os produtos alimentícios fabricados a partir do beneficiamento da alga estão principalmente gelatinas, mousses e iogurtes. A elaboração desse processo foi feita em parceria com algumas universidades, entre elas UFC e Unifor, a partir de consultorias e da colaboração de profissionais. 

"Colocamos a alga seca de molho, para reidratar, com um pouco de limão. Então levamos para cozinhar. Depois coamos e esperamos esfriar para formar o gel. Com ele fazemos a gelatina, a mousse e o iogurte", explica Maria Marli da Costa Soares, uma das participantes do projeto. 

"Recentemente, eles passaram a fornecer esses produtos para a merenda de uma escola do município. Outro novo passo é a criação de mudas por meio de esporulação (in vitro), para não depender mais da poda nos bancos. Estamos iniciando essa experiência com o apoio da Petrobras", ressalta Carbogim. A diretora ressalta ainda a exclusividade do gênero Gracilaria no projeto. "Usamos essa alga porque ela é nativa. Como não temos estudos aprofundados o suficiente sobre o impacto do cultivo de espécies exóticas, não aceitamos". 

ADRIANA MARTINS

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